sábado, 19 de dezembro de 2009

Após o robot

Ontem foi o dia da espera. Antes da operação e durante. Passei grande parte do dia sozinha no quarto, sem saber o que estava a acontecer. Por volta das quatro da tarde, apareceu um médico brasileiro a perguntar um valor de umas análises de sangue. Ora, cirurgiões com dúvidas a meio de intervenções cirúrgicas não é coisa que me ponha muito descansada. Mas todos os médicos a quem contei este pormenor o descartam como sendo de menor importância. Finalmente, por volta das 20h30 lá apareceu o cirurgião principal: um homem alto, com farta cabeleira grisalha, toda despenteada, com ar de quem caminha a passos largos para preencher o lugar de cientista louco. Disse que tinha corrido tudo muito bem, que tinham retirado tudo e que os materiais, chamemos-lhe assim, tinham sido enviados para o laboratório. Passado uns minutos, aparece o Super Pai, super drogado, a teimar comigo que ainda não tinha sido operado e depois, a insistir que tinha estado meio acordado durante a intervenção. O poder das drogas é fabuloso...

E terminou assim um dia de stress. Ver Super Pais ser levados em camas de hospital é complicado. Parece que lhes retiram a super capa, ficando todas as vulnerabilidades dos comuns mortais à vista. E os pais nunca deviam ser mortais. Eu sei que são, mas não deviam.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

On attends...

Dormir em quarto de hospital é impossível a não ser que a malta esteja completamente drogada. Depois de uma noite quase em branco, irrompem pelo quarto, às sete da manhã, as enfermeiras-pilha-eléctrica, com um humor que não desiste. Depois de um parco pequeno almoço e do início do jejum para o Super Pai, começou a espera. A cirurgia está marcada para as duas horas. Até lá, não há nada para fazer, nem ninguém para chatear... O calmante que deram ao SP para dormir ontem à noite, começou a fazer efeito há umas horas atrás. Ele ressona para um lado, eu leio para o outro. Até já.

O exterior da clínica. Temperaturas: máx 4ºC / min -3ºC. É um calor estranho...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Em stress, Em França. Mas em andamento positivo...

O regresso tem sido em cheio e nem sempre pelos melhores motivos. Houve muita festa, sim, mas estes meses, que era suposto serem dedicados à tese, têm sido absorvidos pelo diagnóstico de cancro do Super Pai. Do mal o menos: está tudo sob control e, depois de muito stress associado à necessidade de tomada de decisão mediante demasiadas alternativas, chegamos hoje a Bordéus. Ele vai ser operado amanhã, numa clínica toda XPTO, que tem um super robot, especialissíssimo para efectuar este tipo de cirurgias. Por caprichos mirabolantes típicos, viemos os dois sozinhos.

O espírito começou a esmorecer com a chegada à clínica. Estávamos à espera de um espaço topo de gama e o que encontramos foi um beco, com edifícios antigos, nem todos bem recuperados. Os sinais estão colados nas paredes dentro de micas transparentes; a sinalética dos pisos é alterada a marcador... A entrada no quarto foi o choque maior. As saudades que trouxeram os hospitais portugueses: persianas sujas, janelas sem cortinas (o parque de estacionamento teve uma maravilhosa vista do peitaço do Super Pai), quarto sem sítios para pousar as coisas básicas, armários sem puxadores, quarto de banho sem sabonete. Enfim... Eu sei que o importante é que os médicos sejam bons (excelentes, tá?) e que o robot seja tudo o que é publicitado. Mas quem já trabalhou em hospitais, aliás, quem já usou um espaço hospitalar, percebe que para o doente todos os pormenores contam. E nem o Super Optimismo (meio fachada, mas isso é outro capítulo) do SP aguenta tanta falta de atenção.

Felizmente estamos cá para resolver estas coisas e a vontade de animar também é muita. Depois de torturar umas enfermeiras e de fazer cara feia a umas auxiliares, já conseguimos ir às lágrimas de tanto rir. Os ânimos já se elevaram, a malta já tá de pijaminha, pronta a saltar para o vale dos lençóis (que aqui é mais pedreira, porque as camas devem ter vindo para cá em 1675 quando o sítio foi inaugurado). Amanhá o SP vai para o bloco às 14h. Eu vou fazer o check-in num hotel aqui ao lado. Até já.

O quarto. N.B. o detalhe do material esterilizado empoleirado em cima do candeeiro.


La pérsianne toda caguée...

O belo risco feito pela cama que até papel arrancou da parede...


O toque de classe na sinalética. N.B. os números a marcador. Master Mouse, enjoy...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Post de uma morte anunciada

Sim, o blog está votado ao abandono, mas desta vez não peço desculpas. O regresso tem ritmos estranhos e variadíssimos e quando pensamos que estamos mais estáveis e prestes a entrar numa rotina, que finalmente nos vai permitir começar o raio da tese, acontecem 238 coisas ao mesmo tempo, que nos deixam atarantadas. Uso aqui o nós real, mas a quem me refiro é a mim, já se sabe.

Pois em pouco mais de um mês tive casamentos e funerais, internamentos e biópsias, festas, noitadas e directas. Parece extracto de vida concentrado, tudo a cair em catadupa que é para ter mais efeito. Está a ser interessante, mas com tanta montanha russa, não há tempo, disposição nem paciência para proceder ao registo das actividades neste espaço. Quando as horas que antes se passavam numa secretária, com pouco para fazer e tempo para escrever, são substituídas por experiências, dramas, aventuras, enfim... vida à portuguesa, temos mais é que mergulhar de cabeça neste caldeirão de acontecimentos, senão arriscamo-nos a perder os pormenores. Que são os que fazem toda a diferença.

Em breve haverá uma apresentação pública das experiências que foram sendo registadas nesta Fila ao longo destes tempos. Deverá acontecer em Matosinhos e será recheada de fotos, relatos e detalhes sórdidos e será anunciada aqui. Depois partiremos para outra. Até lá, roubo a ideia à Inês.
Beijinhos, Teresa

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A chegada: carne, lágrimas e livro

Em jeito de contrição, cá venho contar, tin-tin por tin-tin (raio de expressão...), a minha fabulosa chegada à pátriazinha. Ainda me parece mentira que em 25 horas de voo (muitas mais passadas nos aeroportos) tenha conseguido atravessar literalmente, meio mundo. A rapidez das viagens tem o inconveniente de não nos dar a noção das distâncias percorridas. Como tenho dito muitas vezes, se tivesse feito a viagem de navio e demorasse seis meses a cá chegar, era capaz de o impacto não ter sido tanto e de ter havido uma real noção dos kms percorridos. Assim não. Mas poupou-se tempo.

A chegada ao aeroporto foi do melhor. O avião estava meio vazio, com pacatos passageiros que vinham de Frankfurt (já ali ao lado). Eu destoava um bocadinho no meio da calmaria portuguesa porque, a partir do momento em que aterramos no Sá Carneiro, comecei aos saltinhos, com um sorriso estúpido atravessado na cara e que mais nenhum dos meus colegas de voo percebia. O que senti ao transpor as portas da saída e ao encontrar a minha família e amigos à espera foi indescritível. Acho que entrei num estado de euforia, num semi transe, que me pôs aos saltinhos (literalmente) durante a hora em que estivemos na zona das chegadas. Enchi-me de abraços, de beijos, de mimos que me souberam como nada antes. Tinha flores, peluches e gente muito boa à minha espera, a segurarem uma faixa com o cabeçalho desta Fila Indiana (não fosse eu voltar completamente perdida e não reconhecesse ninguém...).

As celebrações duraram o resto do dia, com as maravilhosas Super Bocks na praia de Matosinhos, essa bela localidade. À hora de jantar, mais uma surpresa para agradar à menina: um mega jantar com mais família ainda e mais amigos, picanha, caipirinhas, música ao vivo e mais saltinhos, já se sabe. Quem me viu diz que foi por ter comido o canguru em Camberra. A cereja em cima do bolo e a grande surpresa da noite, que me deixou muda e queda, de queixo a rebolar pelo chão foi o livro que os meus pais (e a Super Rita) fizeram, com a compilação dos textos e fotos da Fila. Deve ter sido a primeira vez que alguém escreveu um livro sem o saber...

sábado, 10 de outubro de 2009

Estranho

Eu peço desculpa pela longa ausência, mas a aterragem na nova velha vida, está a demorar mais tempo do que eu alguma vez poderia imaginar. Os encontros têm sido carregados de emoção, lágrimas e risos, muitas jantaradas e muita troca de histórias. Mas é estranho estar de volta a um ambiente que pouco mudou. E depois do radicalismo das minhas experiências aqui descritas, é-me estranho encontrar-me rodeada pelos meus amigos de sempre, nas esplanadas do costume, a ter conversas... normais. Não sentimos que passou quase um ano. O que por um lado é bom sinal: de força das relações que não se abalam com o tempo nem com a distância. Mas por outras vezes, parece que tenho que repetir a mim mesma que a Índia aconteceu realmente e não foi apenas algo com que eu sonhei entre dois cafés numa praia em Matosinhos.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Nervoso miudinho

Esta e a minha ultima noite em Sydney. Depois de tantos meses, depois de tantas aventuras, comeca mais uma etapa, pela qual tanto ansiei. Dai os nervos. Desejar muito uma coisa coloca muita pressao quando ela se concretiza. Curiosamente, encontro semelhancas com o que senti nos momentos antes de partir para a India. Tambem estava a concretizar um sonho. De anos. Daqui a dois dias, concretizo uma fantasia de meses. Os abracos, beijos, lagrimas foram todos imaginados durante muitas noites indianas. Agora mal acredito que o momento esta aqui. Dois dias. A viagem de regresso comeca amanha as 10 horas australianas e so termina no dia seguinte as 11 da manha portuguesa. Com fusos horarios pelo meio e depois de atravessar meio mundo dentro de um aviao. Estas ferias no meio dos cangurus e dos koalas foram fabulosas, mas parece que me confundiram. Sinto que me encontro numa normalidade que nao devia ter lugar entre as duas dimensoes que me rodeiam e que ainda me sao estranhas. De um lado, a minha vida indiana com todas as peculiaridades e paradoxos que aqui descrevi. Do outro, o regresso ao que ja foi rotineiro e familiar e que me questiono se ainda o sera.
Este desabafo parece que me enche de forca e de vontade de descobrir a resposta. Sydney maravilhosa fica para tras, nao `e casa, nao `e portuguesa. Apesar da simpatia de todos, nao tem os mimos nem o calor da cozinha da minha tia, dos abracos do meu pai, dos risos dos meus amigos. Estou de volta minha gente. Com nervos miudinhos e com muita saudade e com imensa vontade de a matar.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Nos antipodas

Sem tempo para grandes conversas, deixo-vos as primeiras fotos destas ferias, que estao a ser d-o-m-e-l-h-o-r! Atingi o nirvana no MacDonald's, fui ao Zoo ver os cangurus e os koalas, que nao se encontram em mais lado nenhum em Sydney, andei de barco, fui a praia... Enfim, vim parar ao paraiso, apesar do tempo estar bastante cinzento. Aqui ficam algumas imagens incluindo, como nao podia deixar de ser, o meu primeiro bife!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Adeus Surat... Ola Sydney!

Este e o meu ultimo dia em Surat. As malas ja estao prontas, o quarto completamente desprovido das minhas personalizacoes, os nervos em franja! Agora estou literalmente a contar os minutos ate as quatro da manha, hora a que a minha grande viagem comeca. Este e o inicio de uma outra aventura, o regresso a casa e o comeco do resto da minha vida. Estou muito optimista e quero aqui deixar registado que, apesar de todos os contratempos, esta experiencia correu melhor do que eu alguma vez podia ter imaginado. Estou feliz. Pura e simplesmente.
 
Para suavizar a transicao, vou passar duas semanas a Sydney com a Super Mae e os primos que la vivem. Nao sei quando vou ter oportunidade (ou muito sinceramente, vontade) para me ligar a world wide web, mas fica a promessa de, mais cedo ou mais tarde, colocar aqui as imagens das ferias. A Fila vai continuar viva apos o meu regresso, para registar tambem o meu reajuste a civilizacao. Estou curiosissima por saber como vai correr a re-ambientacao. Sera que podemos ter choques culturais de ricochete?
 
Entretanto, fica aqui o plano das festas: a saida de Sydney esta marcada para o ultimo dia de Setembro, o que quer dizer que, com todas as escalas que vou ter que fazer, esta previsto aterrar no fabulastico Aeroporto Sa Carneiro as 11h05 da manha do dia 1 de Outubro. Comecem com a preparacao fisica necessaria porque as celebracoes do regresso vao durar, pelo menos, um mes.
 
Muitos beijos, apertos de mao e xi-coracoes e um muito obrigada. Por tudo.
 
Ate ja!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Pormenores XI

A 3 dias da partida, a manha comeca muito bem, com uma pequena comitiva composta pelas minhas vizinhas, que me vem oferecer tres tops, desenhados por uma delas. Dia que comeca a estrear roupa nova, e` dia feliz para mim!
 

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Despedida


Encontar simetria aqui e dificil, mas ontem foi o fechar de um circulo perfeito. A mesma comida da primeira visita. A mesma companhia no regresso a casa que no primeiro dia. Mas este foi o ultimo. Uma despedida sincera da minha familia indiana. A mummy chorou enquanto eu dizia adeus. O pai deixou que o abracasse. O meu coracao, histerico e cheio de felicidade pelos momentos que estao para vir, apertou-se um bocadinho. Um pouco para minha surpresa. A vontade de voltar para casa, a falta dos abracos portugueses, fez-me esquecer que tambem tenho lacos fortes aqui. Neste canto perdido, onde so vem quem sabe onde fica. Talvez o aperto seja a antecipacao das saudades que sei que vou sentir dos abracos indianos. Diferentes, raros, espartilhados por convencoes culturais, mas nao menos sinceros. A tristeza da mummy em me ver partir, os olhos vidrados da minha colega que sorria, o ar serio de olhos no chao do pai. Andamos sempre a ganhar e a perder. Deixamos pessoas para tras, ganhamos outras. As vezes pergunto-me se vou ter espaco no meu coracao para toda a gente. Porque estes momentos solidificam a minha conviccao de que, apesar de tudo o que tenho visto e do que ainda quero ver, o mundo esta cheio gente que ama e que mima. Ao seu jeito. E sei que ainda vou cruzar caminho com elas. Quando eu era pequenina, uma radiografia mostrou que o meu coracao, o musculo, era maior do que o habitual. Ainda bem que tenho o espaco porque sei que vou precisar dele.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A Grande Loucura de Ganesh

Ha historias que sao tao fora de tudo o que conhecemos, que nem sabemos por onde comecar. O fim de tarde de ontem foi assim. Os festejos do ultimo dia do Grande Festival de Ganesh comecaram de manha, mas a partir das tres da tarde ganharam tal forca que nos vimos obrigados a fechar a porta do escritorio.
Eu fui para a varanda tirar fotos aos carros com as estatuas do deus-elefante que iam em procissao ate a beira rio. A acompanhar os carros, iam cortejos de homens a dancar e a tocar tambores e a estalar foguetes que (quase) me desfizeram os timpanos. Ninguem faz barulho como os indiansos. O ambiente era parecido com o da queima das fitas, mas com deuses em vez de caloiros.

A loucura subiu de tom quando decidi ir com a minha amiga V ate a zona onde estavam a afogar as estatuas. Na India nada e feito de maneira simples. Os carros do cortejo paravam a entrada de uma viela onde ficam varios templos pequenos. A viela acaba no rio, com uma escadaria que a chuva e a lama tinham tornado escorregadia. Uma das maravilhas de ser uma celebridade em Surat e que nao ha policia que me pare. Eu e a minha amiga, passamos todas as barreiras de seguranca sem ter que explicar nada a ninguem e chegamos ao coracao da viela.


As estatuas sao levadas em bracos, escadas abaixo ate ao rio, o que nao e nada problematico com as esculturas mais pequenas, mas que se revela um verdadeiro esforco do corpo e da alma, com as estatuas que chegam aos dois metros de altura. Ver a cabeca do Ganesh a cruzar a esquina da viela foi quase como assistir a um parto. Como sempre o meu ar de choque provocou imensos risos.



O meu reconhecimentos pelas figuras de autoridade, resultou na nossa entrada no ultimo nivel de acesso: a berma do rio, onde so os deuses, os voluntarios de camisola amarela que os carregavam e os segurancas podiam ir. Mas a senhora do sari vermelho que, com um cajado maior do que ela, controlava todos os segurancas, levou-nos ate a beira da agua, onde as estatuas sao colocadas no que parece ser um fragil barquinho de madeira. A remos, afastam-se alguns metros da margem e sao tombadas na agua, para alegria de alguns e lagrimas de outros. Eu nao fui no barco porque me consegui esquivar aos convites, senao acho que ia com o Ganesh ate as portas do ceu. Ou ao fundo do rio Tapi.






quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Lama no cabelo igual a...

Acalmem-se as almas mais preocupadas com o nivel de laranja do cabelo da menina. Como ja tinha dito, nao foi nada tao radical como eu temia. Viva as ervinhas naturais! Ca esta o comprovativo fotografico, com a menina armada em carapau de corrida.
 


 

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Pormenores X

Ha uns dias atras, eu e a minha colega fomos ate Baroda, uma cidade que fica a duas horas de comboio de Surat e que e considerada a capital cultural do Gujarat. Devo confessar que no dia que passamos la, nao deu para perceber o porque deste titulo. Apesar de tudo, a cidade e agradavel. Logo a saida da estacao encontramos a universidade de Baroda, que ocupa uns edificios antiquissimos, com arcos e abobadas em pedra, que realmente inspiram quem estuda por la.

Fomos tambem visitar o museu da cidade, que deve ter das coleccoes mais estranhas do mundo. Num pequeno, mas belissimo edificio vitoriano, estao amalgamadas coleccoes de objectos decorativos chineses, tibetanos, indianos e japoneses, uma ala islamica, outra egipcia onde esta uma mumia (a serio!). Pode ainda ver-se tigres embalsamados mortos pelo maraja da zona, manequins com roupas tradicionais indianas, coleccoes de roupas e artefactos africanos, pinturas europeias e um esqueleto de uma baleia azul que partilha a cave com uma serie de outros esqueleto incluindo o de uma girafa. Ah, e no primeiro andar temos ainda o modelo em gesso da cabeca e dentes de um mamute. Nao percebi a logica das exposicoes, mas foi uma manha bem passada.

sábado, 29 de agosto de 2009

Pormenores IX

Com excepcao das chuvas e da musica a bombar ate a meia noite, em honra do Ganesh, nao ha muita coisa a acontecer em Surat nestes dias. Preparativos para a partida, horas a olhar para o calendario, uma ultima visita a Damao, canalhada a gritar na rua por causa da chuva... e pouco mais. Por isso, para nao matar a Fila antes da sua horinha, os proximos posts serao sobre pormenores da minha vida suratina. Comecamos hoje com a fabulosa aventura do mehendi no cabelo...

Aqui, para alem de se usar o mehendi para fazer desenhos nas maos e pes, a pasta de ervas tambem e aplicada no cabelo. E uma especie de solucao indiana para as brancas e que resulta em alguns fenomenos engracados, como homens a passear na rua com cabelos e barbas cor de laranja vivo. No cabelo negro das mulheres, o mehendi passa mais despercebido. Claro que eu tinha que experimentar como ia o meu cabelo europeu reagir ao mesmo tratamento. E foi esta a louca sexta-feira a noite que passei ontem (note-se a ironia do tom).

Comecei por comprar o pacotinho com o po na loja que fica por baixo do escritorio. 15 rupias (cerca de 0,20E) compram o suficiente para cobrir os longos cabelos das indianas, o que para mim chega e sobra.



A preparacao e um bocadinho mais demorada que as tintas da L'Oreal que se compram no Continente (e que o Tapi Medical Store tambem vende). Comeca-se por por o po de molho durante 2 a 3 horas, o que resulta na pasta mais viscosa e nojenta que se possa imaginar.



Depois aplica-se a lama no cabelo e deixa-se repousar outras 3 a 4 horas. Para jogar pelo seguro, esperei so 2h30. Retira-se com agua. O unico problema e que nem depois de lavar o cabelo com champo e aplicar amaciador generosamente, me livrei do cheiro desagradavel do mehendi. E as minhas maos ainda hoje estao cor de laranja. O resultado nao foi tao mau como estava a espera, mais ruivo muito escuro que laranja assustador. Mas isso fica para ser contado nos proximos capitulos.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O grande festival de Ganesh

Desde a semana passada que esta a decorrer em Surat, o Grande Festival de Ganesh (nome oficial!), o deus da prosperidade e da remocao de obstaculos. As celebracoes decorrem durante 10 dias, especialmente de noite. Os surtis saem para a rua e festejam em torno de carros (uns mais sofisticados que outros), com a imagem do deus trombudo e musica em altos decibeis. A chuvada de ontem e hoje amainou os festejos, que com certeza serao retomados, a tempo do grande final, quando todas as estatuas de Ganesh, adquiridas ao longo destes ultimos dias, grandes e pequenas, serao atiradas ao rio... Numa cidade de quatro milhoes de habitantes, imaginem os efeitos no ecosistema. Mas adiante que aqui, contra a religiao, nao ha natureza que aguente.

O nosso predio tambem tem um pequeno altar, improvisado num espaco no res do chao, onde o deus esta sentado, a frente de uma cortina vermelha e rodeado de grinaldas douradas. Todos os dias desta semana, de manha e a noite, um pequeno grupo de criancas vai a todos os apartamentos, com uma bandeja com uma chama, uns paus de incenso e umas moedas. Passamos a mao direita num movimento circular por cima da chama, depois no mesmo movimento, por cima da nossa cabeca. Recebemos ainda uma pequena porcao da prassad, a oferta de comida que se faz aos deuses. Hoje foram sementes de sesamo com cubinhos de acucar. E bom comecar a manha abencoada pelo deus da properidade. A minha colega e que ainda nao se rendeu aos beneficios da bencao e tranca-se no quarto quando me ouve abrir a porta da rua as criancas. Va la alguem perceber os escoceses...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Uma rapariga cheia de sorte

Sou eu! Cada vez me convenco mais que sou mesmo uma rapariga cheia de sorte. Senao, como se explica que uma segunda-feira que tinha comecado tao mal, terminasse tao bem? Primeiro foram os telefonemas dos papas, que animam sempre a alma. Depois foi a anedota da conversa que tive com as tres pessoas que partilharam o riquexo comigo, desde a estacao de comboios ate casa. As pessoas ficam tao contentes quando me ouvem tentar arranhar o gujarati, que ate a viagem mais acidentada se torna numa festa. Depois foram as festas ao cao do dono da leitaria. Por motivos de seguranca na saude, todos os voluntarios levam uma senhora ensaboadela no treino que temos em Nova Deli quando chegamos, para os perigos da raiva, de ter animais e de fazer festas aos caes vadios. Mas este nao era vadio, estava preso por uma trela, era lindo e sorriu para mim e piscou-me o olho. Verdade! La estive em mais conversa com os homens da minha rua, a fazer festas ao Raja (o cao). E ainda, depois de tudo isto, foi entrar no meu predio e encontrar as senhoras no 2 andar, sentadas no meio do corredor a cortar os fios dos saris. Quando pego na minha maquina fotografica, comeca a histeria da canalhada e la tivemos mais uma boa meia hora em sessao de poses, sorrisos e maluquices. Sou ou nao sou uma sortuda?




domingo, 23 de agosto de 2009

Dia nao

Ate na India se sofre do sindrome de Segunda-feira negra. Nao consigo ligar o meu portatil a net, metade do teclado deixou de funcionar, o unico computador livre no office nao funciona direito, logo nao posso fazer NADA. Mais um senhor teste a paciencia e ao auto-controle, para nao desatar aos gritos...

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Mercado Têxtil

Ontem fui com a D. ao mercado têxtil. A partir do momento em que descemos do auto-riquexó que nos levou até à rua principal, pareceu que entrámos numa zona de guerra. O mercado têxtil fica numa das zonas de maior tráfico da cidade. Surat tem duas grandes industrias: polimennto de diamantes e texteis sintéticos, portanto grande parte dos quatro milhões de habitantes da cidade, trabalham nesta zona. A quantidade de carros, motorizadas, bicicletas e riquexós carregados até ao limite com pacotes de panos, que circulam na estrada principal, é assustadora. Mas ainda pior são as pequenas artérias que cortam o interior do mercado. Ruas estreitas, com o pavimento completamente desfeito, esburacado pelos milhares de pés e rodas que diariamente o percorrem. Os veículos vêm de todos os lados. As pessoas também. Todos homens. Os tecidos são transportados de todas as maneiras: às costas dos homens e rapazes magricelas, que levam uma carga quase do seu tamanho; em carros que parecem de bois, mas têm rodas de plástico e são puxados por um homem; em riquexós adaptados com uma estrutura metálica no tecto, mais comprida que o veículo e carregada de tal modo, que não há suspensão que aguente. As artérias secundárias, onde fomos parar primeiro, meias perdidas, são ocupadas pelos armazéns. Nas poucas artérias principais ficam as lojas, em galerias sujas e cheias de retalhos no chão. Uns estabelecimentos são pequenos, com os tecidos empilhados do chão até ao tecto em estruturas metálicas. Outros são maiores, equipados com ar condicionado e com prateleiras. Nestes não entramos, que o dinheiro não dá para tudo.
 
Com o cair da noite, os trabalhadores dos armazéns saem para a rua e parece que o caos se adensa. Não vale a pena remar contra a maré: temos que escolher bem a nossa direcção antes de sairmos da loja para o passeio e deixar que o mar de gente nos transporte. As raparigas convém que levem as mãos estratégicamente posicionadas porque os toques com as costas das mãos nas coxas, rabo e peito são muito frequentes. E há astúcia no atrevimento: ao princípio pensa-se que é pela quantidade de pessoas que circulam em tão pouco espaço, mas passado alguum tempo, começa a ser coincidência a mais que todos os toques incidam sempre nas mesmas zonas.

É um alívio quando finalmente saimos para a rua principal. O trânsito continua impossível, mas a ausência dos grandes armazéns de ambos os lados da rua e o facto da avenida ser mais larga, dão a sensação de mais espaço. Também com o esgotar da paciência, o sorriso desaparece-me da cara e começo a empurrar quem quer que se atreva a aproximar, de braços soltos e mãos preparadas. A minha cara de poucos amigos parece convencer algumas almas e o caminho faz-se melhor. Pelos vistos, atitude não precisa de tradução.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

De comboio até Damão

Este foi um fim de semana prolongado, com um acumular de dois feriados: o aniversário de Krishna na sexta-feira e o Dia da Independência da India no sábado. Eu e a minha colega fomos até Damão, mais uma vez, onde dormimos de um feriado para o outro. Estávamos à espera de muita festa nas ruas, celebrações e fogo de artifício, mas o máximo que vimos foram umas bandeirinhas de papel coladas nas janelas dos estabelecimentos e verdadeiros cortejos de homens, que se dirigiam em magote para os bares da cidade. No porto em frente ao forte, estavam alinhados e embandeirados, uma série de barcos de madeira, que mais uma vez me fizeram lembrar as terras nortenhas de Portugal (faltam 26 dias...). E foi assim. Desta vez, ficam mais imagens dos tradicionais comboios indianos.


No comboio de Surat para Vapi, a estação mais próxima de Damão. Os poucos kms entre Vapi e Damão foram feitos num taxi partilhado: um Ambassador velhinho, preto e amarelo, com a suspensão a chorar em cada curva e a raspar no chão em cada buraco. Lá dentro eramos nove, condutor incluído.



Sentada num banquinho de pedra a ver os barcos no mar e a mostrar o sapatinho novo, punjabi style.






Já no regresso, dentro do comboio. Aqui todas as janelas têm grades de ferro, quer seja nos prédios, quer seja nos comboios. Porquê?




A estação de Navsari (lê-se naussári) onde estivemos paradas uns largos minutos a jogar o onde está o Wally, mas à procura de mulheres. Parece que em dia de festa só eles é que saem à rua.


A gozar o ventinho bom do comboio em andamento. Nos lugares baratos não há ar condicionado.


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