quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Feliz Ano Novo

É 1h41 da madrugada e os foguetes começaram lá fora. Porquê a escolha da hora? Não faço a mínima ideia, mas o motivo mais provável é porque alguém se lembrou. Aqui há muita coisa que parece que funciona sem qualquer lógica por trás. Como o pai natal escanzelado que vi à porta de um restaurante a dizer adeus a quem passava. Ou o amontoado de pessoas sentadas nos passeios porque é dia 31, mas que não dão qualquer sinal quando chega a meia noite. Ou o filme que fomos ver há uns dias e que começou com um homem musculado, tatuado e com amnésia, a querer vingar a morte da namorada e que a meio da película começa a dançar coreografias que fariam inveja à Madona, vestido com umas calças rosa choque, suspensórios e um chapéu verde alface. O trailer já revela um pouco a esquizofrenia cinematográfica desta obra





O filme de hoje já fazia mais sentido: a rapariga estava casada com um rapaz de quem não gostava e que usava óculos e camisa. Mas o rapaz, apaixonado como estava pela rapariga, mudou para uma t-shirt, trocou os óculos de ver por uns de sol e despenteou o cabelo que lhe serviu de disfarce perfeito para passar todo o tempo com a sua amada sem que ela percebesse que ele era o marido dela. A rapariga só descobre passadas as 3horas do filme. Pérola de fim de ano: nos filmes indianos (independentemente do género) o abraço equivale ao beijo e por muito apaixonados e casados que estejam os protagonistas, tudo o que vemos é isso, um abraço. Bem apertadinho, mas só um abraço.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Em cima do balcão

A ambientação continua e, dentro das circunstâncias, da melhor maneira possível. Dia sim, dia não, vou jantar a casa de um familiar da Daxa (a presidente da ONG) ou a casa de um colega. O carinho e a hospitalidade dos indianos rivaliza com a que sentimos no Norte de Portugal.
Ontem fomos jantar a casa de um dos primos do Vital (marido da Daxa), num apartamento muito moderno, duplex, com um flat screen gigante. Pela primeira vez, vi sofás dentro de uma casa indiana. O dono do palácio mostrou-nos, cheio de orgulho, o seu super candeeiro cheio de pendentes de cristal, com comando à distância (!) e com 3 (sim, 3) tipos de iluminação diferente! Naturalmente, numa casa de classe alta não se prepara a comida no chão, não! Quando entrei na cozinha, encontrei as duas anfitriãs sentadas em cima do balcão (à indiana, com pés e tudo) a preparar a comida. Outra pérola da visita de ontem: o chai (mistura de chá, especiarias, leite e muito açúcar), à refeição bebe-se em chávenas pequenas e depois da refeição bebe-se directamente do pires. Quando terminamos de comer (no chão, claro, a mesa serve para pousar as carteiras), chegaram mais visitas. Passado uns momentos, a filha dos donos da casa aparece na sala com uma cafeteira de chai e um monte de pires. O líquido verte-se no prato e bebe-se. Arrefece mais depressa. Naturalmente.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Natal à Indiana

Cheguei a Surat. E depois de poucos dias já me começo a sentir em casa, graças ao grupo fabuloso de pessoas que vim econtrar aqui. Estou a trabalhar na http://www.gsnpplus.org/, uma ong de e para pessoas com HIV/SIDA, liderada pela Daxa, a presidente, um amor de pessoa, que me acolheu desde o primeiro dia, como se eu f0sse da sua família (grande parte da qual eu já conheci). O calor humano sentiu-se particularmente nestes últimos dois dias. Aqui, o dia 25 é feriado nacional, mas não há grandes celebrações natalícias, apenas um barrete de pai natal aqui e ali. No entanto, na GSNP+, fruto dos dois voluntarios anteriores que cá estiveram, o Natal é celebrado, tentando reproduzir-se dentro do possível, as tradições ocidentais. No escritório, fizemos o sorteio do Pai Natal Secreto e no fim do dia 24, fomos todos juntos comprar a prenda para entregar no dia seguinte. Devo confessar que andei o dia todo com um humor um pouco cinzento, porque apesar de tudo, gosto bastante da minha rotina de Natal familiar e aqui nem parece que estamos em Dezembro. No entanto, com as compras, o espírito começou a acordar.
De seguida fomos para casa da Daxa preparar o jantar de Natal (e onde tenho comido todos os dias desde que cheguei). A meio das preparações recebi uma chamada da minha mãe que me deixou de lágrima no canto do olho. Quando a presidente se apercebeu que eu estava a chorar, ficou em pânico. Eu lá expliquei que eram lágrimas felizes, de saudades e... começa ela a chorar! É incrível a sensibilidade que ela tem para com pessoas que afinal, ainda são estranhos.
Enxugadas as lágrimas, preparamos um doce de Natal cheio de açúcar, uvas passas e amêndoas e toca a comer (sim, aqui come-se no chão e com a mão).
Terminada a refeição (um prato vegetariano delicioso, que me soube a tripas enfarinhadas), começam os cochichos e eu apercebo-me de que me estão a preparar uma surpresa: como lhes tinha contado a tradição portuguesa de abrir os presentes à meia noite, vamos todos para minha casa (uma palácio, fotos em breve) e sentamo-nos à espera do Pai Natal. Canta-se, ri-se muito, chega mais gente, canta-se mais um bocado. Chegada a hora H, trocam-se abraços e votos de Merry Christmas. Eu e a outra voluntária (que só cá está de visita) recebemos um postal de Natal e eu ainda recebo mais uma prenda de todo o staff da GSNP+: um relógio. Fiquei tão sensibilizada com o carinho, que dormi com ele no pulso. Finalmente, tivemos direito a gelado de natal (tudo o que é doce aqui vem com uvas passas e algum tipo de fruto seco), que comemos directo da embalagem, claro.
Hoje dia 25, fomos almoçar a casa de um dos irmãos da Daxa e depois fomos a um centro comercial ver a estreia do Gajini, um filme indiano que vai ter direito ao seu próprio post. Três horas e meia depois, estamos de volta aos escritórios da GSNP+ para a troca de presentes e revelação do Pai Natal Secreto, com muita gargalhada, música, coreografias, fotografias e pais natal de chocolate à mistura. Devo confessar que este foi um Natal fabuloso, amargo pelas saudades que senti da família, mas super adoçado pelo esforço que estas pessoas, que me conhecem há dois dias, fazem para que eu me sinta em casa.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Em Ranchi

Estes dois ultimos dias tem sido uma montanha russa de emocoes (desculpem, mas o teclado e estrangeiro e nao me reconhece o direito de acentuar ou cedilhar...) A viagem de comboio correu relativamente bem. A estrutura interior dos comboios indianos e dificil de explicar: ha bancos que se transformam em camas, carruagens com 3 beliches em cada divisao, enfim. E incrivel como consegue caber tanta gente em tao pouco espaco, mas eu tenho as fotografias que o comprovam. A melhor parte das viagens de comboio sao as conversas que conseguimos ter com as os nossos companheiros de viagem indianos. As pessoas sao bastante acessiveis e o facto de partilharmos um compartimento tao pequeno durante tanto tempo, da-nos um a vontade muito indiano. Curiosamente, a alimentacao no comboio e optima, muito melhor que a de muitas companhias aereas. Entre conversas e comidas, la chegamos a Ranchi e foi como se tivessemos um vislumbre do ceu: ficamos alojados num hotel de 3 estrelas, recheado de todas as impessoalidades do ocidente. Mas que saudades que todos tinhamos desta impessoalidade (e do duche quente. E de comer sem receios de higiene. E de camas com lencois nos quais nos podemos efectivamente deitar. E da ausencia de baratas.). Mas este sol e de pouca dura. Ha umas horas atras conheci um dos meus futuros "empregadores", o Sr. Laxman, um amor de pessoa, mas que me transmitiu uma triste noticia: a minha estadia aqui no hotel paraiso acaba amanha a noite. Eis o novo itinerario:

- saida do hotel as 22h30
- viagem de taxi ate estacao de comboio com ligacao a Surat. Duracao: 3h
- viagem de comboio ate Surat. Duracao: 36h

Estou sem palavras... Novas comunicacoes, ja no pouso definitivo. Over and out.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Itinerário

Estou em preparativos para deixar Nova Deli. Na próxima 3ª-feira, parto no comboio das 16h com os outros voluntários. Cerca de 20 horas depois, devemos chegar a Ranchi onde vamos assistir ao Program Area Review, uma avaliação anual que a ong inglesa leva a cabo para definir o plano de acção dos meses seguintes. Não serão uns dias muito excitantes, porque segundo temos ouvido, a cidade é bastante pequena e tem pouco para oferecer. Mas vai ser uma oportunidade para conhecer todos os voluntários que estão na Índia e (quase) todas as ongs indianas que os recebem. Não sei como serão as facilidades de acesso às ondas do éter, portanto a ausência de contactos não deve ser motivo para alarme.

Até ao meu regresso, deixo-vos uma pequena pérola: aqui, como em tantos outros países, à entrada e saída dos monumentos mais turísticos, somos atacados por vendedores ambulantes que, apetrechados até aos dentes dos mais diversos materiais, nos tentam vender o que de mais inútil e feio existe. Ficam aqui as 3 melhores mercadorias que nos foram oferecidas nas últimas semanas:

- quadro preto portátil: uma espécie de pergaminho em plástico preto onde se pode escrever com giz. Local: Nova Deli, Pragati Maidan Trade Fair.
- chicote: uma peça horrenda e gigante, de pele, com tachas e plumas no punho, pela módica quantia de 50 dólares. Local: Agra, Taj Mahal;
- bigode e barba: como os que se compram para o carnaval. Local: Nova Deli, Red Fort.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O Tumulo da Mumtaz Mahal

O fim de semana passado fomos em marcha até Agra, porque não podiamos deixar passar a oportunidade de ver o Taj Mahal. Confesso que estava um pouco apreensiva porque me parecia um destino muito turístico, um cliché que de modo nenhum se enquadra nesta minha experiência indiana. Portanto, até eu fiquei surpreendida com o nível de excitação e – atrevo-me a dizer?- de emoção que senti quando me deparei com o complexo onde se encontra o túmulo.

O fim de semana começou como uma grande aventura, porque foi a primeira vez que viajamos nos tão famosos caminhos de ferro indianos. Surpreendentemente, a viagem de ida e volta (que foi uma verdadeira pechincha) decorreu muito bem, pontual e com o bónus de termos experimentado a simpatia do povo indiano, que vem a reboque da curiosidade que sentem pelos únicos viajantes brancos num comboio de 2ª classe.


A cidade de Agra em si não tem nenhum atractivo especial e a nossa deslocação foi com o intuito de ver o Taj Mahal ao pôr e ao nascer do sol e pouco mais. Tivemos a felicidade de ter o nosso primeiro avistamento do famoso túmulo desde um ponto de vista muito pouco conhecido: do outro lado do rio Yamuna, numa praia fluvial muito pouco frequentada, num fim de tarde tépido e calmo. Naquele espaço tranquilo, que nem os vendedores se atrevem a estragar e onde nem as buzinas incessantes chegam, todos os turistas – indianos e estrangeiros – estavam em contemplação e absorção de tudo o que aquele momento mágico proporciona.

No dia seguinte experimentámos outra característica tipicamente indiana: o empatanço. Seguindo as informações que lemos no guia, madrugamos às 5h30 para podermos estar à porta do Taj Mahal à hora da abertura anunciada: 6 da manhã. À hora marcada, eramos os primeiros na fila para comprar os bilhetes. Os senhores da bilheteira, à boa maneira (portuguesa) indiana, chegaram, tomaram o seu chá, carimbaram os bilhetes todos do dia, fizeram festas ao cão... Finalmente começaram a vender os bilhetes passavam 20 minutos da hora. Mas a nossa pressa era injustificada, porque os guardas, de metralhadora ao ombro à porta do monumento, enquanto nos ordenavam em fila indiana (a primeira vez que vejo alguma familiaridade com o conceito em 3 semanas de estadia), informaram-nos que as portas só abriam às 6h45. Eu sei que são poucos minutos de espera, mas relembro que é de madrugada, altura em que todos os minutos passados na cama valem horas.

Finalmente entramos no complexo (não sem antes nos revistarem) e foi o momento do assombro, que não consigo explicar. Foi um misto de surpresa por nunca ter pensado ir até ali, com espanto pela beleza do edifício, com romantismo pela história, enfim... Não o vou descrever porque há momentos que têm que ser vividos e não contados. Aproveito só para revelar algumas curiosidades que acho que são pouco conhecidas:

1. o Taj Mahal não está sozinho: é ladeado por uma mesquita e pela Jawal (literalmente, “a resposta”). A primeira foi construída porque na época era costume construir templos junto aos túmulos, para lhes conferir uma aura mais sagrada. A segunda, acredito que tenha sido construída apenas para manter a simetria que se verifica em todo o complexo do Taj Mahal, com uma excepção;

2. o único elemento no Taj Mahal que “estraga” a simetria é o túmulo do imperador (que mandou construir o TM para a sua esposa preferida);

3. os quatro minaretes que rodeiam o TM têm uma pequena inclinação para o exterior. Assim, se houver um terramoto (ligeiro), eles caem para fora e não em cima do Taj (naturalmente, se o terramoto for dos sérios, vem tudo abaixo);

4. entre a cúpula que se vê do exterior e a cúpula que se vê dentro do túmulo existe um espaço oco. Foi feito para criar uma acústica especial. Segundo um dos guias, cabem lá dentro 22 elefantes (não me perguntem o tamanho das criaturas, nem como provaram eles esta teoria);

Outra das mais valias desta viagem de fim de semana, foi descobrir que, em algumas partes da Índia, tenho estatuto equiparável ao de rock star. Nos monumentos que visitamos, fui abordada por dois grupos de jovens indianos que, muito educadamente, pediram fotografias, autógrafos, apertos de mão. O meu primeiro grupo de fãs está nesta foto e o rapaz era o único falante de inglês do grupo. A cena repetiu-se no Forte Vermelho, que visitamos da parte da tarde, e outra vez ontem de tarde, quando caminhava com uns colegas pelos jardins Lodi aqui em Nova Deli. I'm ready for my close up...!


terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Passeios e Correios

Hoje fui sozinha à estação dos Correios enviar uma encomenda para Portugal. Nem sei como me sinto ao fim de duas semanas aqui, mas sair para a rua ainda é uma aventura que requer alguma energia. Como a cidade parece que está num estado perpétuo de obras (pó, tijolos e montes de terra por todo o lado) e como os passeios quando existem têm meio metro de altura e são frequentemente interrompidos por crateras, templos improvisados e rios de urina, caminhar nesta cidade pode ser comparado a fazer trekking nos caminhos da Serra do Gerês. Mas há muitos pontos de contacto entre o modo de ser dos indianos e dos portugueses: recebemos os mesmo olhares quando caminhamos pela rua e ouvimos os mesmos ruídos que os “machos” portugueses se doutoraram em oferecer às meninas que passeiam sozinhas pela rua. O meu mecanismo é o mesmo que em casa: ponho a minha cara fechada número 27 e as provocação resvalam na couraça da minha indiferença.

A rua dos correios

Nos correios, o sistema não traz nenhum exotismo particular. Apenas descobri que o conceito de “fila” é ocidental: aqui as pessoas amalgam-se em frente ao guichet e ocupam todo o espaço disponível. Não existe a noção de espaço social, nem de privacidade. O espaço que eu deixei entre mim e a pessoa que estava à minha frente na “fila”, foi rapidamente ocupado por um senhor que entretanto chegou; e as pessoas são atendidas aos pares, pelo que todos os assuntos são do domínio público. Perceber este inglês macarrónico está a ser um desafio comparável às minhas aulas de Gujarati (que começaram ontem às 7 da manhã). Ainda preciso que me repitam o preço das coisas três vezes antes de as perceber. Pelos vistos aqui tueiti-sében quer dizer 287..

sábado, 29 de novembro de 2008

Terminou

A situação em Bombaim já terminou. Segundo a BBC, foram mortos todos os terroristas. Estima-se que o numero de mortos chegue aos 300.

Entretanto, hoje é dia de eleições para a Assembleia de Nova Deli e por causa dos atentados desta semana e de alguns distúrbios que costumam acontecer nestas daatas, mandaram-nos ficar em prisão domiciliária, por precaução. Portanto, hoje estou a ter um verdadeiro dia de preguiça, um domingo à la indiana...

P.S. Este é o site do instituto onde estou http://www.isidelhi.org.in/index.php

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Elefantes e segredos em Jaipur

Obrigada a todos pelas vossas mensagens e preocupacao, mas por aqui esta tudo bem. Para pôr as mentes mais preocupadas em descanso e tentar um regresso à normalidade (que aqui em Deli apenas foi perturbado pelos relatos da televisão), e também para comemorar o facto de ter conseguido algum acesso à internet, fica aqui o relato da nossa viagem de fim de semana a Jaipur. Foi uma decisão tão espontânea, que estávamos a ver que íamos ficar a dormir na rua. Pelos vistos, a cidade cor-de-rosa é assolada por turistas e nós, pouco prevenidos, não tínhamos marcado sítio para dormir. Mas após vários telefonemas conseguimos estadia, com direito a nos irem buscar de carro à estação das camionetas. A cidade que na realidade exibe uma tonalidade mais salmão que cor-de-rosa, tem um ritmo fabuloso. Eu pensava que era impossível ter trânsito mais caótico que o de Deli, mas ainda tenho muito que aprender. Caminhávamos nós pela berma da estrada (passeio é um conceito ocidental aparentemente), quando pelo meio de trânsito, surge um Sr. Elefante, de tromba enfeitada, circulando naturalmente por entre bicicletas, riqueshós, carros e outros veículos motorizados. Imaginem isto na Rua Mouzinho da Silveira, em hora de ponta...
Como o sol aqui se põe muito cedo (por volta das 18h30 já está completamente escuro) arranjamos quem nos levasse em grande estilo até ao Tiger Fort, uma fortificação a partir da qual se pode ver um fabuloso por-do-sol sobre a cidade.
Quando chegamos lá em cima, devo confessar que não foram as vistas que me seduziram. O sol quando se deita para os nossos lados portuenses, esmera-se. O que me deixou boquiaberta foi o som. Como a cidade está no sopé da montanha onde se encontra o forte, o som sobe pela escarpa e chega com uma clareza inacreditável. Conseguimos ouvir o emaranhado das vozes em conversas, conseguimos distinguir músicas diferentes. Até o incessante buzinar ganha uma melodia inexplicável. É como se puséssemos um copo na parede para escutar a conversa da casa do lado.
Mas em termos de monumentos, o melhor ainda estava para vir. No dia seguinte, fomos até ao Amber Fort, que fica a uns minutos de autocarro de Jaipur. Foi aqui que percebi que afinal os elefantes não são apenas um dos meios de transporte de eleição dos Jaipurenses mais excêntricos, mas são um modo de levar os turistas desde a base da montanha até ao Amber Fort (Claro que os voluntários tiveram foi que dar uso às pernas...)
O Forte/Palácio é uma estrutura magnífica mandada construir pelo Raja Jai Singh em 1600, um rapaz que soube aproveitar bem a vida porque, segundo o que uma guia local estava a dizer a uns turistas espanhóis, o sr. teve, entre outras coisas, 12 mulheres e 25 concubinas. O Forte tem umas vistas fabulosas e é uma delícia deambular por lá. É pena é a quantidade de turistas...
A maravilha de se deambular por espaços encantados como este é que podemos, ao nosso ritmo descobrir recantos e momentos fabulosos. É curioso ver que nos trabalhos de restauro do Forte, as mulheres que carregam na cabeça as taças cheias de terra, vestem saris super coloridos. No nosso mundo seriam figurantes pagos para dar um ambiente mais real ao espaço. Aqui são trolhas, que pedincham umas rupias pelas fotos tiradas.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

wireless e terroristas

O dia amanheceu triste e o ar parece mais pesado. Por aqui ainda não se sabe quem são os terroristas, nem o porquê de semelhante ataque (se bem que nunca haverá uma justificação satisfatória).

Entretanto, aqui no Instituto, o acesso à rede sem fios está ainda mais difícil do que antes, daí a falta de notícias. Há muitas fotos da visita de fim de semana a Jaipur para publicar (elefantes no meio do trânsito, encantadores de serpentes, entre outros), mas o wi-fi não deixa. Resta-nos esperar...

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Fantasma de Sari

Ontem a Índia tornou-se um pouco mais real. Foi uma noite muito atribulada, cheia de desencontros. E encontros com lados mais caóticos, duros, mas mais verdadeiros também. Por trás do Instituto onde estamos hospedados fica o Templo Sei Baba. 5ª feira é o dia daquele homem santificado e as ruas enchem-se de devotos, pedintes e pobres que vêm pela comida que lhes é oferecida. Não consigo explicar porquê, mas é completamente diferente encontrarmo-nos no meio de uma multidão numa zona comercial ou num espaço religioso. O ambiente parece mais intenso, mais carregado de qualquer coisa que não se toca, mas sente-se. E para um angrezzi (estrangeiro) existe o desconforto de não se pertencer.

Á saída do Instituto temos, do outro lado da rua, pessoas que vivem em pequenos cubículos de pedra. Não são barracas porque têm alguma estrutura, apesar de terem apenas poucos metros quadrados. As "casas" estão pintadas de cores vivas e os meus vizinhos vivem durante o dia na rua, onde se sentam no chão a fazer grinaldas de flores para vender aos visitantes do Templo. Na rua ao lado do Instituto fica um verdadeiro bairro de lata. A ruela torna-se ainda mais estreita porque de ambos os lados tem pequenos montes de madeira e pedaços de lixo onde vivem algumas famílias. Vemos que as pessoas sorriem e existe uma sensação de familiaridade, de bairro. Ao fundo da rua do Instituto estão as pessoas que vivem no passeio. Têm uns cobertores e algumas posses que estão amontoadas na cabeceira. Apenas ocupam o passeio ao anoitecer. Em frente tem um pequeno espaço aberto que me parece ser a cozinha dos vários "ocupantes" e que ao entardecer está bastante agitado. Tudo é feito ali na berma da estrada: cozinha-se, lava-se a louça, põe-se a conversa em dia, joga-se cartas. Estes espaços conheci-os todos no primeiro dia que cheguei a Deli. Mas ontem, fomos abordados por outra pessoa que me apresentou a um outro nível de pobreza. Foi à saída de um bar que se aproximou do nosso grupo uma mulher de sari, esquelética, com um odor horrível e que nos perseguiu por alguns quarteirões. Fez lembrar as imagens que vemos nos filmes. Mas real. Era com certeza uma mulher muito doente e muito pobre. Com poucos dias de vida. Um verdadeiro fantasma.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Paharganj dos Mochileiros

Como nenhum de nós conhece bem a cidade, andamos um bocado ao sabor dos guias turísticos que trouxemos connosco e dos conhecimentos dos voluntários que estão em Nova Deli há mais tempo que nós. No outro dia, ao fim da tarde, fomos parar a Paharganj, o bairro dos mochileiros e dos hostels. Aqui tivemos mais uma experiência da verdadeira Índia: caótica, cheia de gente, imunda, hiper populada de animais vadios, mal-cheirosa, fabulosa. O centro do bairro é uma rua cheia de lojinhas dos dois lados, onde vendem de tudo, mas principalmente roupas de estilo ocidental (parece uma feira). A quantidade de vacas que vimos a circular por todo o lado, foi impressionante. Aliás foi aqui que quase fui atropelada por uma sr.ª Vaca que, munida da arrogância que o seu estatuto Sagrado lhe confere neste sub-continente, achou que a curva tinha que ser feita naquele momento e naquele preciso local. Portanto quem estivesse à frente que se desviasse e eu quase que tive que saltar para cima de uma banca de laranjas. Não há problema. A vingança serve-se fria. E acompanhada por batatas fritas e ovo a cavalo.


As imagens aéreas foram tiradas de um restaurante que fica no topo de um edifício nessa zona, chamado Evereste e que serve comida ocidental, o que não é propriamente difícil de encontrar em Deli. No meio de toda a confusão e no centro de uma viela bem estreita, deparamo-nos com umas filmagens que julgamos ser para um dos filmes da tão famosa Bollywood. O cenário era de uma festa ou templo, com uma fonte à entrada que parecia brotar Fanta de laranja...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Jardins Lodi


Deli é uma cidade coberta por uma constante camada de pó e de fumo de tubo de escape. Foi a minha grande surpresa quando cheguei cá. Estava à espera de encontrar muito lixo no chão, mas não no ar, o que é falta de raciocínio porque com a quantidade de pessoas que aqui vive e o ritmo de crescimento da cidade, só podia haver estes níveis de poluição. O ar parece granuloso e demora uns dias até nos habituarmos e conseguirmos respirar normalmente. Perto do Indian Social Institute onde estamos alojados ficam os Lodi Gardens, onde fomos no Domingo passado. Vê-se lá muitos estrangeiros que vivem em Deli a jogar badminton e futebol e curiosamente, muitos casais de namorados de mão dada, que é coisa que não se vê em mais nenhum lado. O jardim tem fama de actividades mais explícitas, mas não testemunhamos nada ao vivo.
No centro do Jardim tem dois monumentos fabulosos, ruínas de uma mesquita e de uns túmulos. São fabulosos e dão uma imagem mais aproximada daquela ideia romântica que acho que todos temos da Índia.
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