Ontem fui com a D. ao mercado têxtil. A partir do momento em que descemos do auto-riquexó que nos levou até à rua principal, pareceu que entrámos numa zona de guerra. O mercado têxtil fica numa das zonas de maior tráfico da cidade. Surat tem duas grandes industrias: polimennto de diamantes e texteis sintéticos, portanto grande parte dos quatro milhões de habitantes da cidade, trabalham nesta zona. A quantidade de carros, motorizadas, bicicletas e riquexós carregados até ao limite com pacotes de panos, que circulam na estrada principal, é assustadora. Mas ainda pior são as pequenas artérias que cortam o interior do mercado. Ruas estreitas, com o pavimento completamente desfeito, esburacado pelos milhares de pés e rodas que diariamente o percorrem. Os veículos vêm de todos os lados. As pessoas também. Todos homens. Os tecidos são transportados de todas as maneiras: às costas dos homens e rapazes magricelas, que levam uma carga quase do seu tamanho; em carros que parecem de bois, mas têm rodas de plástico e são puxados por um homem; em riquexós adaptados com uma estrutura metálica no tecto, mais comprida que o veículo e carregada de tal modo, que não há suspensão que aguente. As artérias secundárias, onde fomos parar primeiro, meias perdidas, são ocupadas pelos armazéns. Nas poucas artérias principais ficam as lojas, em galerias sujas e cheias de retalhos no chão. Uns estabelecimentos são pequenos, com os tecidos empilhados do chão até ao tecto em estruturas metálicas. Outros são maiores, equipados com ar condicionado e com prateleiras. Nestes não entramos, que o dinheiro não dá para tudo.
Com o cair da noite, os trabalhadores dos armazéns saem para a rua e parece que o caos se adensa. Não vale a pena remar contra a maré: temos que escolher bem a nossa direcção antes de sairmos da loja para o passeio e deixar que o mar de gente nos transporte. As raparigas convém que levem as mãos estratégicamente posicionadas porque os toques com as costas das mãos nas coxas, rabo e peito são muito frequentes. E há astúcia no atrevimento: ao princípio pensa-se que é pela quantidade de pessoas que circulam em tão pouco espaço, mas passado alguum tempo, começa a ser coincidência a mais que todos os toques incidam sempre nas mesmas zonas.
É um alívio quando finalmente saimos para a rua principal. O trânsito continua impossível, mas a ausência dos grandes armazéns de ambos os lados da rua e o facto da avenida ser mais larga, dão a sensação de mais espaço. Também com o esgotar da paciência, o sorriso desaparece-me da cara e começo a empurrar quem quer que se atreva a aproximar, de braços soltos e mãos preparadas. A minha cara de poucos amigos parece convencer algumas almas e o caminho faz-se melhor. Pelos vistos, atitude não precisa de tradução.
4 comentários:
Goi!!
Ena, ena, que confusão... bem tinhas dito, num dos primeiros posts quando aí chegaste, que na Índia não havia o conceito de espaço privado!
Só de ler a tua descrição senti um ligeiro SUFOCO!:)
BEIJOS!!
Maior confusão de tráfego do que a que vi nas zomas de Surat onde andamos parece impossivel. Só de imaginar que ainda há pior até ma arrepio. E os gajos hem...lata não lhes falta!!
Bjinhos
uff! Sei do que falas!! Não há sorriso que aguente...são momentos que nunca sequer consegui descrever, mas agora lendo o teu fauloso texto, revi as minhas incursões aos Musseques!!!beijos...tá quase!
E assim diz o ditado, "ha gestos que valem mais que mil palavras". Neste caso, não gestos, mas expressões :)
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