quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

No Templo

A entrada simples não deixa adivinhar o que se encontra por detrás daquele portão de ferro enferrujado, com um mar de sapatos a ocultar o tapete. Mandam-me guardar óculos de sol dentro da carteira. Entramos num pátio com um grande edifício no centro, rodeado de pequenas casinhas. Em frente ao edifício estão inúmeras mulheres de sari a espreitar o que se passa lá dentro. Atrás delas, os homens sorriem, vestidos de branco.

Temos que circular no sentido dos ponteiros do relógio. A minha falta de domínio do Gujarati e o inglês quebrado dos meus colegas, impede-me de perceber o porquê desta peculiaridade entre muitas outras. Numa das construções mais pequenas, está um grupo de pessoas observar, sorridente e encantada, enquanto um padre "coloca as cores no deus", dizem-me. E numa sala interior vedada por um corrimão, um padre jovem, de barbas negras e vestes brancas, salpica uns pós brancos e cor de rosa, primeiro pelo chão e depois pelos lençóis que cobrem as paredes em volta da estátua de uma figura meia humana, meia animal, carregada de jóias de ouro e diamantes, ofertas dos crentes.

De repente, o padre pára e olha para a plateia, com um ar sério e surpreendido, como se só agora tivesse reparado que estávamos ali. Pega numa mão cheia de pó branco e lança-o com toda a força para cima das pessoas. Depois atira o pó cor-de-rosa. É uma benção, explicam-me.

Cá fora, o tocador de gongo, de cabelo rosa choque abençoado, começa a dar pancadas ritmadas no prato metálico que tem pendurado à sua frente. As pessoas que assistem, batem palmas ao mesmo ritmo e cantam, enquanto seguem com o olhar o padre (que entretanto já se encontra no edifício maior) e que agora põe as "cores da vida" noutros dois deuses.

Atrás deste pátio, o templo tem um grande jardim, com um espaço enorme cheio de pássaros e patos. Os bancos de jardim espalhados dão a ideia que este é um sítio onde se pode vir e passar uns momentos em paz e sossego, o que numa cidade cheia de vacas, motas e buzinadelas equivale a um oásis no meio do deserto.

Depois da euforia do lançamento do pó colorido, as pessoas dispersam-se com alguma rapidez, não sem antes beberem água de um pote que se encontra nas escadas do templo e comerem uma folha, que a mim foi oferecida pela mãe da D.

No dia seguinte reparo que as plantas dos meus pés ainda estão tingidas de cor de rosa e sorrio. Estou abençoada!

5 comentários:

Ivan Mota disse...

Fascinante!

eduardo disse...

Cada dia na India é uma aventura. Ainda pensamos nós, ocidentais e com crenças cristãs/católicas, que os nossos rituais são complicados. Enfim... como diria o Artur Albarran assim vai o mundo

fernandesmariateresa disse...

As bençãos nunca são demais minha querida. Vou gostar de ver esse sítio.
beijinhos

Queiroz disse...

Ora grande benção essa que tu praticas...não seria estranho que o sagrado te protegesse e acompanhasse.
As tuas descrições são mesmo reais...juro que visualizo o teu "sorriso cor de rosa".
Até já...

Helena Almeida disse...

Goi!!
Caindo no erro de repetir o que Ivan Mota já escreveu, de facto a única coisa que me apetece dizer é: Fascinante!
BEIJOS!!!

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