Em finais, mas ainda no Inverno. As máximas chegam aos 35ºC. No escritório preocupo-me com o Verão. Tenho medo de derreter. Quando saio, a brisa das seis da tarde envolve-me. Compro qualquer coisa para comer e vou para casa. Mudo de roupa. Sigo em linha recta para o terraço. Nos primeiros momentos estou sozinha. Lá em baixo, tudo existe em diferentes tons de castanho: os telhados de ferro enferrujado, as mobílias velhas nos pátios, as tábuas de madeira das barracas, as penas do galo que depenica o plástico de uma saca, o pelo do cão que salta atrás dele. A pele das outras pessoas que noutros terraços, ou em cima de muros, também eles castanhos, olham na mesma direcção que eu. O rio chama-se Tapi e mais de metade da sua superfície está coberta de algas verdes. Eu acho curioso atravessar meio mundo e vir parar ao lado de outro rio. Feliz por ter água por perto, o que sempre me tranquiliza, não sei porquê. Talvez quando chegarem as chuvas e as cheias, eu mude de ideias. Mas por enquanto, estou parada no terraço, a sentir a brisa entrar pela minha kurti e secar as gotas de suor que se formam nas minhas costas. A sentir o vento quente a pentear-me os cabelos soltos. A tentar, sem conseguir, imaginar o que pensam as outras pessoas de tom castanho, nos terraços à minha frente.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Pormenores II
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
O cúmulo da coerência
A drogaria da minha rua não vende spray mata baratas porque o dono segue o Swami Aran, que diz ser pecado matar qualquer criatura viva.
domingo, 22 de fevereiro de 2009
Na favela
O cenário vai mudando lentamente. Os prédios tornam-se mais raros e as casas começas a ter todas a mesma altura, alastrando-se por uma extensão que não consigo adivinhar. Reparo como o ambiente é muito diferente do que estava à espera. Não existe o morro, que os filmes e telenovelas brasileiros nos habituaram a ligar imediatamente à palavra “favela”. Os animais aqui são mais numerosos que nas outras partes da cidade. O chão é em terra batida e os rios de água duvidosa que o atravessam, são muito frequentes. Perguntamos pela N.bhen, presidente de uma ong local e que nos vai levar até às mulheres que cosem os apliques brilhantes nos saris. Indicam-nos uma ruela . Reparo que de ambos os lados da rua principal, existem várias ruas, cada uma mais estreita que a anterior. Estas desembocam noutras vielas e formam um labirinto. Aqui podemo-nos perder de mais que uma maneiras. Passamos por quatro rag pickers, mulheres e homens que recolhem do lixo retalhos que podem ter algum uso e os vendem. Já na ruela, desviamo-nos de duas cabras que tocam com as cabeças levemente uma na outra. Pelas portas abertas, vejo os habitantes da favela, que costuram, penteiam os filhos ou apenas esperam. Por quê, ainda não sei. Talvez nunca venha a saber. Acho que terei muita sorte, se assim for.
Como em todo o lado, a visitante branca é motivo de curiosidade. Já depois de encontrarmos quem procuramos, enquanto nos dirigimos às casas das mulheres que se ocupam da costura dos saris, o nosso grupo vai engrossando lentamente, com mais mulheres e crianças que querem saber quem sou, para onde vou e que faço aqui. Não sinto presenças ameaçadoras e sempre que cruzo o olhar com alguém que não o desvia, a sua cara abre-se num sorriso. Vamos encontrando as mulheres e o cenário parece feito para um filme. No meio das moscas que aqui são mais que muitas, das crianças semi-nuas que assomam às portas, das cabras, das vacas, das galinhas e garnizés, do lixo, da água, dos esgotos e de mais lixo, surgem pendurados de fios que não vejo, enormes panos coloridos. Rosa forte, verde alface, azulão. São estes saris que permitem que as mulheres engrossem o esquelético salário mensal que têm para viver. Explicam-me que os maridos trabalham, mas muitos são alcoólicos e o dinheiro vai para aí. Por cada sari em que trabalham ganham entre 1 e 6 rupias. Num dia conseguem terminar cerca de 15. Nos seus tempos livres. Depois do trabalho fora e dentro de casa. O dinheiro que ganham, é mantido pelo ong num programa de poupanças, permitindo que estas mulheres controlem pelo menos parte do que vão ganhando. Os saris chegam ali como simples panos e saem enriquecidos por lantejolas douradas. A favela exporta beleza.
Havia muito para fotografar. Muitas imagens pobres e belas. Talvez chocantes. Mas para sacar de uma máquina fotográfica no meio de quem sendo tão diferente, tão bem nos recebe, requer muita coragem ou muito descaramento. E eu estou desprovida de ambos.
Como em todo o lado, a visitante branca é motivo de curiosidade. Já depois de encontrarmos quem procuramos, enquanto nos dirigimos às casas das mulheres que se ocupam da costura dos saris, o nosso grupo vai engrossando lentamente, com mais mulheres e crianças que querem saber quem sou, para onde vou e que faço aqui. Não sinto presenças ameaçadoras e sempre que cruzo o olhar com alguém que não o desvia, a sua cara abre-se num sorriso. Vamos encontrando as mulheres e o cenário parece feito para um filme. No meio das moscas que aqui são mais que muitas, das crianças semi-nuas que assomam às portas, das cabras, das vacas, das galinhas e garnizés, do lixo, da água, dos esgotos e de mais lixo, surgem pendurados de fios que não vejo, enormes panos coloridos. Rosa forte, verde alface, azulão. São estes saris que permitem que as mulheres engrossem o esquelético salário mensal que têm para viver. Explicam-me que os maridos trabalham, mas muitos são alcoólicos e o dinheiro vai para aí. Por cada sari em que trabalham ganham entre 1 e 6 rupias. Num dia conseguem terminar cerca de 15. Nos seus tempos livres. Depois do trabalho fora e dentro de casa. O dinheiro que ganham, é mantido pelo ong num programa de poupanças, permitindo que estas mulheres controlem pelo menos parte do que vão ganhando. Os saris chegam ali como simples panos e saem enriquecidos por lantejolas douradas. A favela exporta beleza.
Havia muito para fotografar. Muitas imagens pobres e belas. Talvez chocantes. Mas para sacar de uma máquina fotográfica no meio de quem sendo tão diferente, tão bem nos recebe, requer muita coragem ou muito descaramento. E eu estou desprovida de ambos.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Casamento n.º3
A dança é feita em volta de um mercedes cinzento, enfeitado com uma gorda cobra feita de flores que vai desde a mala até ao capot. Os foguetes são acesos de dois em dois minutos, enchendo a rua de fumo.
Dou dois passos atrás e ponho um ar preocupado, quando reparo num homem de óculos escuros, que se coloca ao lado do carro, segurando uma espingarda enorme. Mais uma vez, sou a única com cara de preocupação. Quando os meus colegas param de rir, explicam-me que é uma pistola de pressão de ar. Mesmo assim, nunca fiando...
Uns momentos depois, sai de dentro do carro um noivo de fato cinzento brilhante, a destilar gotas de suor, visíveis até à distância a que estou. Mas nem com o noivo fora do carro a dança pára. A música continua, o cantor agarra o microfone e os altifalantes, maiores que eu, continuam a debitar o mesmo ritmo. Uns momentos mais tarde, desaparecem todos. Quando saio do escritório às seis da tarde, as bancas de fruta e legumes ocupam os seus lugares de sempre, guardadas pelos vendedores habituais. A única prova das festividades são os confetis coloridos que jazem no chão.
Casamento n.º2
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
Extremos
Hoje vou a um casamento (sim, estamos em plena marriage season e há vários casamentos todos os dias e todas as noites. Até Março ninguém vai dormir antes da 1 da manhã, que é quando a música pára).
Amanhã vou a uma favela.
Amanhã vou a uma favela.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Feito do dia
Ontem consegui, sem mudar de passeio, evitar ser atropelada por uma manada de bois pretos que vinha na minha direcção...!
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Um Domingo fabuloso
Este último Domingo foi do melhor. Depois de um dia dos namorados que passou completamente despercebido, acordei com a minha vizinha a bater-me à porta, a dizer que eu tinha que estar pronta dentro de meia hora, porque tínhamos que ir a um casamento. Yes, madam! Com um sorriso nos lábios e sem mais perguntas.
Os casamentos aqui são fantásticos! Primeiro temos à entrada do local, um grupo de homens a dançar ao som de uma banda que prima por ser o mais ruidosa possível. Ao lado, as mulheres observam. Este é o grupo do noivo. O grupo da noiva está à espera, dentro do local onde vai acontecer o casamento. A primeira vez que vejo a noiva, acho que, apesar do sorriso, ela parece estar extremamente desconfortável debaixo do sari, do pano na cabeça, da grinalda gigante de flores que leva à volta do pescoço e que parece pesar quilos. Para além disso, tem todas as partes do corpo visíveis, adornadas de jóias. Só mais tarde reparo que ela passa o tempo todo com a cabeça inclinada para a esquerda, porque a indumentária não lhe permite pôr-se direita.
Dentro da sala onde decorrem as várias cerimónias que compõem um casamento indiano, está, no centro, um suporte cheio de cores e espelhinhos, debaixo do qual estão dois grandes cadeirões onde os noivos se sentarão mais tarde. Em torno desta estrutura estão sentados os convidados: os homens em cadeiras, as mulheres no chão. Não há o silencio e a solenidade que temos desse lado do mundo. Talvez porque a cerimónia seja composta por mini rituais em que participam diferentes elementos das famílias. Talvez porque seja muito difícil aos indianos manterem grandes grupos em silêncio durante muito tempo. A sala onde estamos sentadas, fica por cima de um templo, de um deus muito simpático. Vou visitá-lo com a minha vizinha e uma amiga dela e o padre de vestes cor de açafrão, oferece-me uma pequena coroa de flores, directamente da cabeça do deus e uns pedacinhos de coco! Talvez a minha aura ainda esteja rosa choque!
Depois do almoço vamos embora porque ainda temos que ir a casa de uma amiga da S. (nota: no casamento comem primeiro os "homens" do noivo, depois os "homens" da noiva, depois as "mulheres" do noivo e finalmente, as convidadas da parte da noiva... Inspira, expira, ...)
O resto do dia foi passado na área mais moderna da cidade, com direito a uma visita a um centro comercial (onde vejo o único coração, resquícios do S. Valentim) e Mc Donnalds para um gelado. Entretanto, vamos a mais um templo: uma grande casa, com um jardim cheio de árvores e que sabe muito bem, às 16h30, quando o sol queima. Protegida pela sombra, está a estátua de uma vaca, enfeitada com inúmeros pequenos deuses. As minhas amigas explicam-me que aqui adora-se a vaca. Eu sei, respondo, porque era o principal meio de locomoção de Sheeva (ou era Krishna? confundo-os sempre e elas também não sabem), uma das 3 principais divindades indianas e também porque a vaca, como os rios, é associada à maternidade. Exactamente! validam elas. De seguida, perguntam-me se estou com o período. É que se estivesse não podia entrar no templo. E eu começo a pensar que “contradição” é uma palavra que se dá muito bem por aqui.
Os casamentos aqui são fantásticos! Primeiro temos à entrada do local, um grupo de homens a dançar ao som de uma banda que prima por ser o mais ruidosa possível. Ao lado, as mulheres observam. Este é o grupo do noivo. O grupo da noiva está à espera, dentro do local onde vai acontecer o casamento. A primeira vez que vejo a noiva, acho que, apesar do sorriso, ela parece estar extremamente desconfortável debaixo do sari, do pano na cabeça, da grinalda gigante de flores que leva à volta do pescoço e que parece pesar quilos. Para além disso, tem todas as partes do corpo visíveis, adornadas de jóias. Só mais tarde reparo que ela passa o tempo todo com a cabeça inclinada para a esquerda, porque a indumentária não lhe permite pôr-se direita.
Dentro da sala onde decorrem as várias cerimónias que compõem um casamento indiano, está, no centro, um suporte cheio de cores e espelhinhos, debaixo do qual estão dois grandes cadeirões onde os noivos se sentarão mais tarde. Em torno desta estrutura estão sentados os convidados: os homens em cadeiras, as mulheres no chão. Não há o silencio e a solenidade que temos desse lado do mundo. Talvez porque a cerimónia seja composta por mini rituais em que participam diferentes elementos das famílias. Talvez porque seja muito difícil aos indianos manterem grandes grupos em silêncio durante muito tempo. A sala onde estamos sentadas, fica por cima de um templo, de um deus muito simpático. Vou visitá-lo com a minha vizinha e uma amiga dela e o padre de vestes cor de açafrão, oferece-me uma pequena coroa de flores, directamente da cabeça do deus e uns pedacinhos de coco! Talvez a minha aura ainda esteja rosa choque!
Depois do almoço vamos embora porque ainda temos que ir a casa de uma amiga da S. (nota: no casamento comem primeiro os "homens" do noivo, depois os "homens" da noiva, depois as "mulheres" do noivo e finalmente, as convidadas da parte da noiva... Inspira, expira, ...)
O resto do dia foi passado na área mais moderna da cidade, com direito a uma visita a um centro comercial (onde vejo o único coração, resquícios do S. Valentim) e Mc Donnalds para um gelado. Entretanto, vamos a mais um templo: uma grande casa, com um jardim cheio de árvores e que sabe muito bem, às 16h30, quando o sol queima. Protegida pela sombra, está a estátua de uma vaca, enfeitada com inúmeros pequenos deuses. As minhas amigas explicam-me que aqui adora-se a vaca. Eu sei, respondo, porque era o principal meio de locomoção de Sheeva (ou era Krishna? confundo-os sempre e elas também não sabem), uma das 3 principais divindades indianas e também porque a vaca, como os rios, é associada à maternidade. Exactamente! validam elas. De seguida, perguntam-me se estou com o período. É que se estivesse não podia entrar no templo. E eu começo a pensar que “contradição” é uma palavra que se dá muito bem por aqui.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
No Templo
A entrada simples não deixa adivinhar o que se encontra por detrás daquele portão de ferro enferrujado, com um mar de sapatos a ocultar o tapete. Mandam-me guardar óculos de sol dentro da carteira. Entramos num pátio com um grande edifício no centro, rodeado de pequenas casinhas. Em frente ao edifício estão inúmeras mulheres de sari a espreitar o que se passa lá dentro. Atrás delas, os homens sorriem, vestidos de branco.
Temos que circular no sentido dos ponteiros do relógio. A minha falta de domínio do Gujarati e o inglês quebrado dos meus colegas, impede-me de perceber o porquê desta peculiaridade entre muitas outras. Numa das construções mais pequenas, está um grupo de pessoas observar, sorridente e encantada, enquanto um padre "coloca as cores no deus", dizem-me. E numa sala interior vedada por um corrimão, um padre jovem, de barbas negras e vestes brancas, salpica uns pós brancos e cor de rosa, primeiro pelo chão e depois pelos lençóis que cobrem as paredes em volta da estátua de uma figura meia humana, meia animal, carregada de jóias de ouro e diamantes, ofertas dos crentes.
De repente, o padre pára e olha para a plateia, com um ar sério e surpreendido, como se só agora tivesse reparado que estávamos ali. Pega numa mão cheia de pó branco e lança-o com toda a força para cima das pessoas. Depois atira o pó cor-de-rosa. É uma benção, explicam-me.
Cá fora, o tocador de gongo, de cabelo rosa choque abençoado, começa a dar pancadas ritmadas no prato metálico que tem pendurado à sua frente. As pessoas que assistem, batem palmas ao mesmo ritmo e cantam, enquanto seguem com o olhar o padre (que entretanto já se encontra no edifício maior) e que agora põe as "cores da vida" noutros dois deuses.
Atrás deste pátio, o templo tem um grande jardim, com um espaço enorme cheio de pássaros e patos. Os bancos de jardim espalhados dão a ideia que este é um sítio onde se pode vir e passar uns momentos em paz e sossego, o que numa cidade cheia de vacas, motas e buzinadelas equivale a um oásis no meio do deserto.
Depois da euforia do lançamento do pó colorido, as pessoas dispersam-se com alguma rapidez, não sem antes beberem água de um pote que se encontra nas escadas do templo e comerem uma folha, que a mim foi oferecida pela mãe da D.
No dia seguinte reparo que as plantas dos meus pés ainda estão tingidas de cor de rosa e sorrio. Estou abençoada!
Temos que circular no sentido dos ponteiros do relógio. A minha falta de domínio do Gujarati e o inglês quebrado dos meus colegas, impede-me de perceber o porquê desta peculiaridade entre muitas outras. Numa das construções mais pequenas, está um grupo de pessoas observar, sorridente e encantada, enquanto um padre "coloca as cores no deus", dizem-me. E numa sala interior vedada por um corrimão, um padre jovem, de barbas negras e vestes brancas, salpica uns pós brancos e cor de rosa, primeiro pelo chão e depois pelos lençóis que cobrem as paredes em volta da estátua de uma figura meia humana, meia animal, carregada de jóias de ouro e diamantes, ofertas dos crentes.
De repente, o padre pára e olha para a plateia, com um ar sério e surpreendido, como se só agora tivesse reparado que estávamos ali. Pega numa mão cheia de pó branco e lança-o com toda a força para cima das pessoas. Depois atira o pó cor-de-rosa. É uma benção, explicam-me.
Cá fora, o tocador de gongo, de cabelo rosa choque abençoado, começa a dar pancadas ritmadas no prato metálico que tem pendurado à sua frente. As pessoas que assistem, batem palmas ao mesmo ritmo e cantam, enquanto seguem com o olhar o padre (que entretanto já se encontra no edifício maior) e que agora põe as "cores da vida" noutros dois deuses.
Atrás deste pátio, o templo tem um grande jardim, com um espaço enorme cheio de pássaros e patos. Os bancos de jardim espalhados dão a ideia que este é um sítio onde se pode vir e passar uns momentos em paz e sossego, o que numa cidade cheia de vacas, motas e buzinadelas equivale a um oásis no meio do deserto.
Depois da euforia do lançamento do pó colorido, as pessoas dispersam-se com alguma rapidez, não sem antes beberem água de um pote que se encontra nas escadas do templo e comerem uma folha, que a mim foi oferecida pela mãe da D.
No dia seguinte reparo que as plantas dos meus pés ainda estão tingidas de cor de rosa e sorrio. Estou abençoada!
Welcome to India...
Dois dias em casa, com movimentos intestinais irregulares (se é que me percebem)... Bem-vinda à Índia ou como já me habituei a dizer "Faz parte da experiência!"
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Hospitais (e desabafos...)
(Os últimos dias têm sido uma mistura muito estranha de altos e baixos emocionais. Com a publicação da notícia e com todos os contactos subsequentes, experimentei uma histeria que só posso justificar como felicidade concentrada. No entanto, como todos os highs, parece que a ressaca nos ataca sem dó nem piedade e transforma toda aquela energia, num soco no estômago. Não aconteceu nada que o justifique. Talvez todos os contactos tenham agudizado as saudades. Não sei. Mas volto a sublinhar a falta que faz o encontro diário com amigos. Mesmo não os vendo, apenas sabendo que estão perto. E pensando na ausência dessa proximidade física, parece que a solidão se entranha nos ossos. Ou talvez esteja apenas a ter um momento de auto-comiseração. Acho que também lhes tenho direito.)
Para pôr as coisas em perspectiva, não há nada como uma visita a um hospital indiano. A ong onde estou faz hoje anos e preparamos uma campanha de angariação de fundos em alguns hospitais locais. Bem sei que Portugal não é o topo de gama no que diz respeito a cuidados de saúde, mas entrar num hospital público indiano arrepia. Não há o choque óbvio da visualização das doenças (ou dos doentes). Esse já o temos quando na estrada vemos as pessoas que dormem no passeio ou as crianças que brincam, semi nuas, num monte de terra. O choque é o das instalações. Grandes, amplas e com uma camada de terra entranhada no chão, nas paredes, nos gradeamentos... Algum pessoal circula de bata branca, mas nem estas inspiram grande confiança. A limpeza do hospital é feita por uma senhora (de sari), com uma vassoura tradicional, como se usa em qualquer casa indiana, feita com umas fibras naturais (que alguém menos bem intencionado poderia confundir com palha). A ventilação é feita por aberturas cobertas com grades e eu pergunto-me como será o cenário na altura das monções. As poucas janelas têm os vidros cobertos com restos de tinta, papeis e a sempre presente poeira. E como já me tenho vindo a habituar, sou a única pessoa que olha em redor com surpresa. Todos circulam com a maior naturalidade e até com uma característica raríssima em paragens indianas: calma e relativo silêncio...
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Em Fila Indiana no JN
Subscrever:
Mensagens (Atom)