Era uma mistura de nuvens, pássaros pretos e papagaios de papel de todas as cores. Nos terraços das casas, famílias inteiras miravam o céu. O objectivo era cortar o fio dos outros papagaios de papel. Quando o conseguiam davam um grito que basicamente dizia ao derrotado para voltar para casa e arrumar as ferramentas. Foi o festival do Uttarayan que marca o solstício de Inverno deste lado do mundo. As pessoas comemoram assim. Nas semanas antes do dia 14 de Janeiro, as lojas transformam-se e em quase todo o lado se pode comprar as construções super leves, feitas de papel fino e pequenas varas de madeira, os rolos de fios de cores vivas que são revestidos com vidro em pó para serem mais “cortantes”. Passei o dia em casa do irmão da presidente da ong onde trabalho. Toda a família esteve no terraço (perigosamente, sem qualquer protecção lateral, o terraço é apenas o último piso, sem quaisquer acabamentos). Apareceram os vizinhos e o alfaiate trouxe a família com ele. Eu voei um papagaio de papel pela primeira vez na minha vida. Tenho provas fotográficas que não deixam lugar para dúvidas. Mas os inúmeros papagaios que foram comprados para este dia, não se gastam todos de uma só vez. Por isso, no dia seguinte, os meus vizinhos raptam-me nas escadas ao fim da tarde, quando me preparava para sair para ir às compras, e querem levar-me até ao terraço do nosso prédio. “Just one minute. Just one minute”. Eu acedo. A Kajal, uma miúda com uns lindos olhos rasgados e que pratica o seu inglês nos momentos que me rouba nas escadas, não me larga a mão, nem mesmo depois de chegarmos ao nosso destino. O terraço é fabuloso. Enorme, com chão de tijolo branco e com uma parede branca a toda a volta. Está polvilhado de vizinhos. Não reconheço todas as caras, mas ainda estou cá há pouco tempo. Este mundo ainda me é estranho. A aparelhagem está protegida por um pano colorido. Falamos uns minutos, trocamos nomes, graus de parentesco e eu tento decorar mais umas caras. Tenho mesmo que ir, tenho um colega à espera. Agradecem-me os elogios ao terraço. Deixo para trás os sorrisos dos meus vizinhos e eles deixam-me o coração mais quente e a alma mais leve.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
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6 comentários:
Amiga é um prazer acompanhar-te nesta aventura! As fotos estão lindas! Sem dúvida que o teu papagaio voou bem alto! Bom trabalho e continua a deliciar-nos com as tuas aventuras!!! Beijos enormes!!!
Té
Ler a tua visão de um mundo que não conhecemos é qualquer coisa. Continua a mandar-nos estas palavras.
bjs,
Olá fofinha, adorei ver -te lançar o papagaio. Deve ter sido giro! Os teu vizinhos devem ser o máximo e...gostar de ti não é dificil.
Beijosssssssssssssssssss
Namaste(Namastê)!
Como acima se diz, gostar de ti não é dificil!
Tem sido muito agradável ler, ver,este blog. É como se ai se estivesse. Pelo que vou sabendo dessa cultura tão diferente, o que é importante, é saber ir na onda para que se possa disfrutar desse pitoresco país.
Optima continuação!!!!
Sobe, sobe, balão sobe, vai pedir àquela estrela que meu deixe lá viver e sonhar.....
Lindas fotos.
beijos grandes em forma de balões!!!
Com este treino das alturas, sem protecção, vamos ter escalada em breve...
Adorei o colorido da festa e a simplicidade dos gestos. Não conhecia a modalidade de eliminar o parceiro e ainda estou a pensar se não cortará também a pele.
Adoro papagaios e é como dizes: dá uma sensação de fascínio e de autonomia.
Um papagaio de beijos
Queiroz
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