A conferência em Orchha foi fenomenal. É uma grande motivação e alento encontrar outros voluntários, trocar ideias, lamentos, histórias de horror, risos e, felizmente, muita cerveja. O hotel era de sonho, construido pelo neto do último Marajá ali da zona, que ainda carrega o título do avô. Conhecemos o senhor: nada de turbantes, nem de chinelos pontiagudos, apenas um homem normal, com um sorriso pacífico, uma barriga protuberante e uma cultura geral fora do que é habitual encontrar por aqui. O hotel, para além de pessoal super simpático, tinha uma pequena piscina mesmo à saida do meu quarto, o que me permitiu passar longas horas de molho. Numa das noites em que tivemos uma pool party, estive 5 horas dentro de água. Depois de quase 30 anos a viver com o mar sempre perto do horizonte, o corpo sente falta de se emergir.
A cidade era deliciosa. Muito pequena, mas com uns templos e um forte que atraem bastantes turistas, o que permite que se estabeleçam algumas lojas com artigos mais tradicionais, que não se encontram em Surat.
Uma dessas lojas é propriedade de um senhor do Gujarate, Bahadurbhai, com quem troquei umas palavras na sua língua natal. Resultado: tive direito a ver as fotos da família e a ir almoçar a casa dele no dia seguinte, uma refeição deliciosa, preparada pela sua sempre sorridente esposa. No final do almoço, já eu lhe chamava Bapuji e ele oficializava a minha adopção com um "agora tens que voltar cá, porque tens família em Orchha".
No dia seguinte fomos visitar o forte. Os fortes das cidades indianas são dos locais mais encantadores que já visitei. Já em Portugal gosto muito de ir aos castelos, porque tenho a impressão de entrar literalmente noutra época, em que elfos, duendes e cavaleiros andantes eram reais. Aqui a sensação é semelhante, mas o cenário é mais exótico. As pedras não são do granito cinzento, coberto de musgo português, mas são claras como areia e imponentes.
O forte de Orchha tem imensos recantos, escadarias, varandas, pátios... enfim, espaços onde nos podemos perder durante horas, com a mente a viajar por fantasias de outros tempos. A sensação é ainda mais intensa se se tiver a sorte, como eu tive, de visitar o espaço numa altura em que este estava quase deserto de outros turistas.
Este forte tinha a peculiaridade de ter um anexo chamado Camel House. A explicação à entrada do edifício deserto era bastante curiosa, já que os historiadores se dividem quanto aos usos que a casa pode ter tido e que vão desde uma pouco original estrebaria de camelos (se bem que o nome pode ter vindo do desenho das portas, que parece o contorno de um camelo gigante) até um Pavilhão do Prazer. Fica à imaginação de cada um.
4 comentários:
Teresa... Vida boa... Piscina junto ao teu quarto. Pull party... Enfim só coisas boas... mas apenas dentro do hotel. Os indianos são muito simpáticos, pelos vistos. Partilho a tua paixão pelos castelos.
Goi!!
Ainda bem que o realismo de Surat não te impede de desfrutar a Índia exótica!
Compreendo perfeitamente quando falas da tonalidade da arquitectura... Até pode parecer estúpido, mas foi exactamente o mesmo que senti quando visitei Coimbra: a luz ocupava o lugar do nosso cinzento granítico do norte. Aliás, juro de pés juntos que em Lisboa o sol é diferente:)
BEIJOS!!
Isso é que foi uma conferencia em grande. Deu para tudo! Party, tour, relax, jola e claro sightseeing com um toque muito indiano.
bjs
Cara Teresa é uma experiência única, mas noto que o tempo vai passando, permita-me dizer-lhe o seguinte:
A saudade não está na distância das coisas, mas numa súbita fractura de nós, num quebrar de alma em que todas as coisas se afundam...Saudade é ser, depois de ter.
Cá a esperamos
Saudações Marítimas
José Modesto
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