terça-feira, 2 de junho de 2009

Romeu e Julieta no Gujarate

Fomos para o terraço do meu prédio porque a minha amiga D. disse que não queria ver ninguém. Eu sabia que alguma coisa séria a andava a perturbar há alguns dias e hoje ela ia desabafar comigo e contar-me o que se estava a passar.
 
"O meu irmão está apaixonado por uma rapariga há dois anos e ela vai casar-se no dia 01 de Julho. Eles andam desesperados, não sabem o que fazer. Agora limitam-se a contar os dias e a rezar por um milagre". Confesso que quando ouvi o motivo que tanta tristeza tinha posto na cara da D. pensei "É só isso?".
 
Mas depois veio a explicação de todas as ramificações: a família da Julieta (chamemos-lhe assim) é muito tradicional e de mentalidade tão cerrada, que vão casar três filhas ao mesmo tempo: uma de 18, uma de 16 e outra de 11 anos. Se o Romeu (o irmão da D.) fizer alguma coisa, até mesmo falar com o pai da Julieta, existe o perigo de retaliações contra a família dele, que incluem violência física.
 
Se a rapariga decidir não se casar, os pais dela têm que pagar uma determinada quantia aos pais do noivo e a vergonha dessa decisão cai sobre ela e sobre toda a sua família, principalmente sobre as suas irmãs mais novas. Para além disso, a tia da Julieta já faz parte da família do noivo e sofrerá retaliações se alguma coisa acontecer que quebre o noivado. O noivo, que segundo sei está completamente alheio a todo este drama, está na Rússia a terminar um doutoramento e só voltará nas vésperas do casamento. E gosta da Julieta.
 
Sempre é mais complicado do que inicialmente me parecia, uma vez que juntamente com todas estas tramas sociais, está o facto do Romeu e da Julieta estarem absolutamente enamorados e de acharem que se complementam perfeitamente um ao outro, num relacionamento que se baseia em conversas e que ainda não avançou para o contacto físico.

5 comentários:

eduardo disse...

Ai meu Deus... Como é complicado casar na India. Bem sei que, em Portugal, isso era uma tradição de há alguns séculos. Felizmente e aparentemente foi abolida.

Liseta disse...

há bom remédio para isso....
que fujam os dois à lá romeu e julieta e que se lixe o resto, porque se não vão viver o resto da vida a lamentar-se por não o terem feito.
he,he,he
sorry, eu sei que não mete piada

Anónimo disse...

O Romeu e Julieta não fugiram. O final foi bem mais drástico! Fugir é sempre uma opção nestes casos, principalmente se o amor é assim tão forte. No entanto, será amor ou paixão !?! A eterna dúvida!Para duas pessoas, que nem sequer tiveram contacto físico, este pode ser um passo muito grande. Tudo depende se estão dispostos a assumir esse risco. Viver com outro não é tão simples como por vezes se idealiza mas, quando é com a pessoa certa...

Teresa Calisto disse...

Aqui, fugir é uma decisão quase tão drástica como o destino do Romeu e da Julieta de Shakespeare. As consequências que uma fuga traria para a família do rapaz e da rapariga, particularmente para as irmãs mais novas dela, seriam muito provavelmente fatais.

Queiroz disse...

Apesar do negrume da situação, bem mais séria do que se possa pensar,poderá contribuir para a tomada de consciência da necessidade da mudança. Mas estas situações demoram demasiado...fiquei curioso acerca do teu conselho...ou eventual silêncio!
A tradição perpetua o efémero, infelizmente!
Beijinhos

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