segunda-feira, 4 de maio de 2009

O que me vai na alma

Já recebi alguns mails de amig@s preocupados com o que realmente estou a sentir com esta experiência. Pelos vistos tudo neste blog parece lindo, colorido, exótico e sorridente, se bem que com uma camada de poeira permanente, ou não estivesse eu na India, e a malta desconfia de tanta felicidade junta. Eu, se estivesse desse lado, também desconfiava.

A verdade verdadeira, em jeito de confissão, mas sem me ajoelhar que me magoa as rótulas, é que as coisas vão correndo bem. Esta era uma experiência com que eu sonhava mais ou menos desde os meus 18 anos. É muito sonho e é daquelas coisas que a partir de determinada altura, começamos a desconfiar que se concretizem. Eu tive sorte. Muita sorte. E muita persistência também.

Não estou de modo algum apaixonada pela India, como há quem fique depois de passar alguns dias de férias por aqui. Não sei se o facto de estar cá mais tempo e de viver (quase) como uma local e não como uma turista, me faça ter uma visão mais crua do dia a dia e da realidade indiana, que não corresponde de modo algum ao colorido e ao exótico que nos chega a esse lado do globo. A vida aqui é castanha, suja, pobre, esquelética, mas sorridente, que quem mais não conhece a mais não pode aspirar. Também não estou no outro extremo de odiar o país. Apesar de toda a poeira, há sítios lindos, há pessoas que compensam o feio que me bate na cara todos os dias quando saio de casa. Não gosto da comida deste estado (tenho saudades da comida indiana de Portugal, vejam lá), mas gosto de comprar frutas e legumes no mercado, dos vendedores que já  me conhecem e me chamam. No outro dia até comprei uma varinha mágica. Vou sair daqui uma quase fada-do-lar. O que também não é propriamente um ponto positivo na minha lista...

As saudades são muitas. Sempre que tenho o cérebro livre (e isto acontece muitas vezes), a minha mente foge logo para finos nas esplanadas de matosinhos com os meus "gajos", ou para jantares e idas ao teatro com o meu "Dog" preferido, para os abraços e o colo da super-mãe, para as conversas no balcão da cozinha da super-tia, para as tolices da super-afilhada ou para os jantares italianos, os karaokes e as conversas retorcidas do super-pai (sim, a minha família é composta por super heróis, que querem?!?). Sonho muitas vezes com a casa dos meus pais e fantasio com o momento da minha chegada, que me faz sorrir sempre. Já comecei a planear a minha partida, apesar de ainda faltar muito para andar deste lado. Mas o que acontece nesta cidade perdida de referências exteriores, é que os dias demoram a passar, mas os meses correm. Quando conto pelos dedos há quanto tempo cá estou e quanto tempo me falta, tenho que repetir o cálculo algumas vezes porque a matemática não é o meu forte, mas também porque o equilíbrio da conta está contantemente a mudar.

Portanto o que me vai na alma é isto: não quero voltar para casa mais cedo, mas também não quero ficar aqui para além da data final. A tod@s @s preocupad@s, um abraço daqueles tão apertados, mas tão apertados, que magoa os braços de uma maneira boa.

9 comentários:

Teresa disse...

Um abraço muito apertadinho para ti também!

fernandesmariateresa disse...

Como te compreendo! As pessoas são muito queridas, mas não aspiram a mais nada!
Gostei muito e..... senti mesmo o teu abraço.
Beijinhos e ...té logo querida.

Mana Branca disse...

Um abraço forte, um abraço que só quem sente saudades a sério sabe dar! Sei e sinto exactamente o que falas...vou depois de amanhã para a minha terra e tenho mesmo que ir!!! preciso daquele ar fresco e de me identificar com a vida ao meu redor!!!Estou como tu a viver a maior e mais intensa experiência da minha vida! mas tal como tu, as imagens coloridas e bonitas das fotos estão muito para além da realidade dura que nos cerca!! às vezes não consigo olhar...e quase todos os dias me revolto! Gosto de estar aqui, apesar deste não ser o meu mundo...vou cumprir o meu contrato! Beijos enormes e saudades do tamanho da India!

eduardo disse...

Teresa... Teresa... Não querendo parecer insensível ao facto de estares, quase literalmente, do outro lado do mundo. Por muita beleza que India possa ter, o teu tempo não é para fazer turismo e acredito que as saudades deste país à beira mar plantado são mais que muitas

Liseta disse...

Um grande xi-coração para ti também, Teresita.

Luis Santos disse...

Muito bem!
É o que designa por um texto assertivo!
Apesar da emoção estar subliminar conseguiu ser objectiva e sintética.
Parabéns e... força!
Saudações do amigo da Família
Luis Santos

Otília Gradim disse...

Teresinha ;) diz-me o nome de uma pessoa que seja tua amiga e que não tenha saudades tuas...





...Vês como não és capaz de dizer nenhum!





Até o teu "tio" militar tem saudades tuas ;))




um enorme abraço
e beijinhos

otília

Queiroz disse...

Apesar de estarmos Em Fila Indiana compreendo bem as tuas palavras! Há um aspecto do qual julgo que não te arrependerás no futuro: de não teres feito a experiência.
Com toda a força do mundo...fica a admiração pela tua decisão e determinação!
Beijinhos

Bárbara Carrapa disse...

Olá Teresa

Não nos conhecemos, mas nos últimos meses tenho ouvido falar muito de ti, das tuas experiências, da tua aventura por terras indianas, da tua coragem (talvez genética?)...
Sou a nova professora de Geografia da tua "super-mãe", acho que o nome adequa-se na perfeição, ela é sem dúvida uma grande SENHORA, extremamente inteligente, sensível, humana, cheia de energia e boa disposição (excepto quando lhe dói o ouvido ).
Em muitas das minhas aulas a D. Teresa partilha connosco as saudades da sua menina, bem como alguns detalhes sobre a tua viagem, e por isso mesmo resolvi deixar aqui um pequeno comentário ilustrativo da minha franca admiração.
Eu ainda sonho com uma experiência desse género, talvez pelo continente africano… quem sabe um dia!?
Sem mais demoras, espero que esta viagem humanitária continue a correr bem e que tenhas a sabedoria e paciência para contornar as dificuldades diárias.

Beijinhos


Bárbara Carrapa da Silva

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