quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Fantasma de Sari

Ontem a Índia tornou-se um pouco mais real. Foi uma noite muito atribulada, cheia de desencontros. E encontros com lados mais caóticos, duros, mas mais verdadeiros também. Por trás do Instituto onde estamos hospedados fica o Templo Sei Baba. 5ª feira é o dia daquele homem santificado e as ruas enchem-se de devotos, pedintes e pobres que vêm pela comida que lhes é oferecida. Não consigo explicar porquê, mas é completamente diferente encontrarmo-nos no meio de uma multidão numa zona comercial ou num espaço religioso. O ambiente parece mais intenso, mais carregado de qualquer coisa que não se toca, mas sente-se. E para um angrezzi (estrangeiro) existe o desconforto de não se pertencer.

Á saída do Instituto temos, do outro lado da rua, pessoas que vivem em pequenos cubículos de pedra. Não são barracas porque têm alguma estrutura, apesar de terem apenas poucos metros quadrados. As "casas" estão pintadas de cores vivas e os meus vizinhos vivem durante o dia na rua, onde se sentam no chão a fazer grinaldas de flores para vender aos visitantes do Templo. Na rua ao lado do Instituto fica um verdadeiro bairro de lata. A ruela torna-se ainda mais estreita porque de ambos os lados tem pequenos montes de madeira e pedaços de lixo onde vivem algumas famílias. Vemos que as pessoas sorriem e existe uma sensação de familiaridade, de bairro. Ao fundo da rua do Instituto estão as pessoas que vivem no passeio. Têm uns cobertores e algumas posses que estão amontoadas na cabeceira. Apenas ocupam o passeio ao anoitecer. Em frente tem um pequeno espaço aberto que me parece ser a cozinha dos vários "ocupantes" e que ao entardecer está bastante agitado. Tudo é feito ali na berma da estrada: cozinha-se, lava-se a louça, põe-se a conversa em dia, joga-se cartas. Estes espaços conheci-os todos no primeiro dia que cheguei a Deli. Mas ontem, fomos abordados por outra pessoa que me apresentou a um outro nível de pobreza. Foi à saída de um bar que se aproximou do nosso grupo uma mulher de sari, esquelética, com um odor horrível e que nos perseguiu por alguns quarteirões. Fez lembrar as imagens que vemos nos filmes. Mas real. Era com certeza uma mulher muito doente e muito pobre. Com poucos dias de vida. Um verdadeiro fantasma.

8 comentários:

fernandesmariateresa disse...

oi querida,
estás a embrenhar-te na realidade da Índia!
Eu acho que eles são um povo de grande religiosidada. Para a probreza em que vivem têm necessidade de ter fé em Algo superior.
Muitos beijinhos daquela que gosta mais de ti do que de chocolate ou ice-cream.

Helena Almeida disse...

Goi!!!
Agora que sei o caminho digital para a Índia vou passar a fazer viagens diárias...
Tira muitas, muitas fotos!!! É pena é não haver foto da já popular vaca... :)
BEIJOS!!

O Amigo do Café disse...

Este texto está mesmo muito bom. Parabéns.

Queiroz disse...

Olá vagueadora de mentalidades...parabéns pela descrição. Nota-se bem como estás a tomar o pulsar da cidade. Ao ler a tua descrição era como se estivesse no local.
Atenção ao pulsar dos atropelamentos...Não há um sinalizador para quadrúpedes?
Beijo

mariamar disse...

Então Princesa de à quem e além mar???
Estou a ver que já estás bem embrenhada por aí.
Continua a lutar pelos teus objectivos.
Beijinhos
Luisa

Helena Almeida disse...

Goi!!!
Bom dia!
No sábado correu tudo bem por aqui!
O HP elaborou um livro e... tchan tchan tchan tchan... há fotos tuas dignas de distinção:) Tinham-me pedido fotos e eu disse que tinha em arquivo as que tu tinhas tirado... e foram primeira escolha em muitas páginas:) Queria dar-te esta novidade, espero que gostes!
BEIJOS!!
PS:Escreve... quero saber novidades!

Otília Gradim disse...

Quase que vi a Senhora. Excelente texto!
beijinhos

Anónimo disse...

Olá!
Parece que tudo está a correr bem!
Estou a seguir com muito agrado toda esta descrição,óptimos textos,fotografias excelentes, isto para um livro!!!!
Parabens! Tudo de bom!
E já agora no nosso jantar toda gente comeu um bom bife com o ovo a cavalo,não! A coordenadora comeu lulas!!! Beijitos

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