sábado, 19 de dezembro de 2009

Após o robot

Ontem foi o dia da espera. Antes da operação e durante. Passei grande parte do dia sozinha no quarto, sem saber o que estava a acontecer. Por volta das quatro da tarde, apareceu um médico brasileiro a perguntar um valor de umas análises de sangue. Ora, cirurgiões com dúvidas a meio de intervenções cirúrgicas não é coisa que me ponha muito descansada. Mas todos os médicos a quem contei este pormenor o descartam como sendo de menor importância. Finalmente, por volta das 20h30 lá apareceu o cirurgião principal: um homem alto, com farta cabeleira grisalha, toda despenteada, com ar de quem caminha a passos largos para preencher o lugar de cientista louco. Disse que tinha corrido tudo muito bem, que tinham retirado tudo e que os materiais, chamemos-lhe assim, tinham sido enviados para o laboratório. Passado uns minutos, aparece o Super Pai, super drogado, a teimar comigo que ainda não tinha sido operado e depois, a insistir que tinha estado meio acordado durante a intervenção. O poder das drogas é fabuloso...

E terminou assim um dia de stress. Ver Super Pais ser levados em camas de hospital é complicado. Parece que lhes retiram a super capa, ficando todas as vulnerabilidades dos comuns mortais à vista. E os pais nunca deviam ser mortais. Eu sei que são, mas não deviam.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

On attends...

Dormir em quarto de hospital é impossível a não ser que a malta esteja completamente drogada. Depois de uma noite quase em branco, irrompem pelo quarto, às sete da manhã, as enfermeiras-pilha-eléctrica, com um humor que não desiste. Depois de um parco pequeno almoço e do início do jejum para o Super Pai, começou a espera. A cirurgia está marcada para as duas horas. Até lá, não há nada para fazer, nem ninguém para chatear... O calmante que deram ao SP para dormir ontem à noite, começou a fazer efeito há umas horas atrás. Ele ressona para um lado, eu leio para o outro. Até já.

O exterior da clínica. Temperaturas: máx 4ºC / min -3ºC. É um calor estranho...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Em stress, Em França. Mas em andamento positivo...

O regresso tem sido em cheio e nem sempre pelos melhores motivos. Houve muita festa, sim, mas estes meses, que era suposto serem dedicados à tese, têm sido absorvidos pelo diagnóstico de cancro do Super Pai. Do mal o menos: está tudo sob control e, depois de muito stress associado à necessidade de tomada de decisão mediante demasiadas alternativas, chegamos hoje a Bordéus. Ele vai ser operado amanhã, numa clínica toda XPTO, que tem um super robot, especialissíssimo para efectuar este tipo de cirurgias. Por caprichos mirabolantes típicos, viemos os dois sozinhos.

O espírito começou a esmorecer com a chegada à clínica. Estávamos à espera de um espaço topo de gama e o que encontramos foi um beco, com edifícios antigos, nem todos bem recuperados. Os sinais estão colados nas paredes dentro de micas transparentes; a sinalética dos pisos é alterada a marcador... A entrada no quarto foi o choque maior. As saudades que trouxeram os hospitais portugueses: persianas sujas, janelas sem cortinas (o parque de estacionamento teve uma maravilhosa vista do peitaço do Super Pai), quarto sem sítios para pousar as coisas básicas, armários sem puxadores, quarto de banho sem sabonete. Enfim... Eu sei que o importante é que os médicos sejam bons (excelentes, tá?) e que o robot seja tudo o que é publicitado. Mas quem já trabalhou em hospitais, aliás, quem já usou um espaço hospitalar, percebe que para o doente todos os pormenores contam. E nem o Super Optimismo (meio fachada, mas isso é outro capítulo) do SP aguenta tanta falta de atenção.

Felizmente estamos cá para resolver estas coisas e a vontade de animar também é muita. Depois de torturar umas enfermeiras e de fazer cara feia a umas auxiliares, já conseguimos ir às lágrimas de tanto rir. Os ânimos já se elevaram, a malta já tá de pijaminha, pronta a saltar para o vale dos lençóis (que aqui é mais pedreira, porque as camas devem ter vindo para cá em 1675 quando o sítio foi inaugurado). Amanhá o SP vai para o bloco às 14h. Eu vou fazer o check-in num hotel aqui ao lado. Até já.

O quarto. N.B. o detalhe do material esterilizado empoleirado em cima do candeeiro.


La pérsianne toda caguée...

O belo risco feito pela cama que até papel arrancou da parede...


O toque de classe na sinalética. N.B. os números a marcador. Master Mouse, enjoy...

Creative Commons License
Em Fila Indiana by Teresa Calisto is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Portugal License.
E voce, blogaqui?
Directorio de Blogs Portugueses